segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Capítulo 17




- Eu não sabia... – murmurei, encolhida na minha cama. Minha mãe estava sentada do meu lado.
- Tudo bem, no fundo ele sabe que você não disse por querer. – tranquilou-me.
- Quando foi que...quando ela morreu?
- Marina morreu durante o parto devido a perda excessiva de sangue. Foi terrível para todos nós que acompanhamos de perto a gravidez dela. Ian estava tão feliz! Tão sorridente por ser uma menina! – ela disse, sorrindo – Quando ela morreu, ele entrou em depressão profunda, nem queria ver a menina. Graças a Deus ele voltou a si, voltou para Helena. Sei que se não fosse por ela, talvez ele não houvesse persistido em viver.
Respirei fundo, mergulhada em intensa compaixão.
Ele perdeu a esposa e criara sozinho a filha. Quem diria que um dia Ian seria pai…? Ou melhor, quem diria que a pessoa bem humorada e ativa iria se tornar um homem sério e protetor?
- Depois de uns meses após a morte da Marina, Ian voltou pra faculdade e se formou em medicina. Não sei se foi pelo ocorrido com a esposa, mas algum tempo depois ele se especializou e tornou-se um dos melhor obstetras da região. Ele fez o parto dos trigêmeos da Daniele.
- TRIGÊMIOS??? – gritei, rindo. – Meus Deus, três crianças de uma só vez...só podia ser da Danieli mesmo.
Minha mãe riu.
- É engraçado a ver levando três carrinhos de uma vez. São dois meninos e uma menina.
- Quais os nomes?
- Acho que é Romeo, Jack e Elizabeth – falou, me olhando.
Os dois primeiros nomes eram provavelmente influencias do Leonardo di Caprio e seus personagens.  Mas o terceiro...
- Ela escolheu o seu nome por homenagem a amizade de vocês.
Comecei a chorar de emoção. Minha amiga tinha feito aquilo por mim...roguei a Deus que ela me perdoasse.
- Nem sei o que dizer...amanhã vou na casa dela vê-los.
- Faça isso – minha mãe disse, levantando-se com um bocejo – Vou dormir. A casa é sua, você sabe.
- Eu sei – sorri para ela.
- Boa noite filha.
- Boa noite mãe.
E pela primeira vez em anos dormi tranquilamente.


POV Ian

“ Não posso voltar no tempo e acredite, se eu pudesse mudaria tudo. Todos os dias as suas lembranças me matavam de saudade”.

- Papaii, a agua tá fia.
Balancei a cabeça e sai dos devaneios.
- Desculpa princesinha – sorri para Helena, enrolando-a na toalha cor-de-rosa e tirando-a da banheira infantil. A coloquei de pé no toucador – Qual pijama você quer?
- O da Mini pai- falo, as perninhas e bracinhos gordinhos balançando inquietos.
Fui até o quarto adjacente ao banheiro e tirei do armário o pijama. Coloquei a peça de algodão e depois peguei uma escova no formato de um coração, passando-a levemente pelos cachinhos ruivos. Iguais aos da mãe.
- Pai, compra oto xampu?
Franzi o cenho diante do biquinho dela. Ela sorriu, revelando os dentinhos de leite. Peguei-a no colo e levei em direção ao quarto dela. Quando ele foi construído, Marina e eu nos dedicamos a decoração ao saber que seria uma menina. Pintamos nós mesmos em meio à guerra de tinta as paredes na cor rosa, mais tarde colando adesivos de borboletas. O berço, a cama de solteiro, as prateleiras, o toucador, o guarda-roupa e os mobiles haviam sido escolhidos por ela em uma tarde de verão. Minha única função foi montar tudo e carregar as sacolas.
“Mais rápido lesma, as lojas vão fechar daqui a pouco” – ela dissera praticamente correndo nos pequenos saltos altos, a barriga de cinco meses não a impedindo.
- Por que você quer trocar de xampu? Você sempre gostou dele – argumentei. Ela revirou os olhos, exatamente como a ame fazia.
- A filha da tia tem um cabelo bonito e cheloso. Tem Chelo de molango.
Estaquei enquanto a cobria.
- Quem filha?
- A filha da tia – repetiu, se ajeitando na cama. – Ela é muito bonita né pai?
- É... Muito bonita – concordei ao relembra-la – Agora durma, amanha tenho que te levar até a “tia”.
Helena não a chamava pelo nome
- Será que ela vai tá lá? Acho que o nome dela é Liz... Tipo da bebe da tia Dani.
- É meu amor- falei beijando o rosto redondo e corado – o nome dela também é Liz. Mas agora vamos dormir ok?
- Tá. Eu te amo – ela disse em meio a um bocejo e em pouco tempo pegou no sono.
Fiquei mais um tempo ali, velando pelo sono dela. Com passos lentos e silenciosos fui para o meu quarto e fechei a porta. Ele era grande demais para um só e era pequeno demais quando havia a Marina.
Eu o preferia pequeno.
Deitei na cama macia e espaçosa, fitando o teto. Pela primeira vez em anos meus pensamentos não voaram para o passado. Não lembraram momentos felizes que tive.
Eles estavam irrevogavelmente voltados para Elizabeth... A minha Liz.
Minha nada me corrigi, irritado.
Deus... Como eu sentira falta dela! Fora um choque encontra-la ali, diante das escadas, o passado momentaneamente apagado. Era como se tivéssemos 17 anos outra vez e ela estivesse me esperando na porta de casa para tomarmos um sorvete.
Claro, não havia nada de infantil na Liz de hoje.
Ela era bonita quando criança e adolescente, minha mente graças a Deus não apagou isso. Porém, nada me preparara para encontrar uma mulher linda e encantadora. A pele branca e imaculada era perfeita para os cabelos longos e inomináveis: nem loiros nem castanhos. Era a cor Liz, somente dela. Nunca havia visto nada parecido.
O rosto tinha os traços suaves, os olhos expressivos e lábios generosos. O corpo era pequeno, mas curvilíneo. A magrela havia desaparecido.
Mas o fato de estar linda não muda nada, pensei. Ela havia ido embora, fora por impulso como uma criança mimada. Havia abandonado amigos e família por capricho e fora morar com um pai que jurava repudiar... Não dera a mínima para os meus sentimentos nem os de ninguém. Claro, eu  admitia que havia sido tão criança quanto ela mais cedo. A raiva e magoa vieram com tanta força que me assustaram. Eu não sabia da intensidade da saudade e dos sentimentos que eu sentia e reprimia até vê-la.
Quando a abracei... Merda... Por um momento foi como se tudo voltasse ao normal, eu estava completo... E cristo, meu corpo não foi nenhum pouco obediente quando nossos corpos se tocaram.
Suspirei e esfreguei as mãos no rosto com força. Amanhã eu levaria Helena para ficar com Marta e consequentemente, caso Liz não tenha ido embora, vai ficar com ela também. Eu não queria que minha filha ficasse com Liz. Claro, eu tinha certeza de que ela seria incapaz de fazer algo contra o meu anjo, até porque, antes de me ver, vi a genuína alegria no rosto das duas ao se verem.
“A filha da tia tem um cabelo bonito e cheloso. Tem Chelo de molango.”
Agora era só o que me faltava: Helena começar a pedir tudo o que Elizabeth tem, começando agora pelo shampoo.
Decidi, satisfeito comigo mesmo, que conversaria com calma amanhã com Liz e deixaria tudo bem claro, o que eu queria e o que eu não queria. Assim, não haveria problemas.
Na minha cabeça estava tudo ok, mas isso não bastou para o meu corpo relaxar e eu dormir. Pelo visto seria uma longa noite, ainda mais se o cheiro dos cabelos de Liz não saírem da minha cabeça...





Gente, o POV quer dizer: ponto de vista.

Isso são bônus que podem ocorrer com Ian ou Helena, eles contando a história

ps: essa menina vai aprontarr ahsuahsuahsuhas. A inspiração sou eu mesma quando pequena kkk. Últimos capítulos, o que será que vai acontecer?
bjos


Um comentário:

  1. Essa menininha vai dar o que falar, acho que vai se dar bem como cupido... hehehe. Se for levado em conta o jeitinho lindo de falar é certo que sim!
    Ei, mas não vá tão logo para os últimos capítulos,agora que tudo tem mil e uma possibilidades...
    Continue, a inspiração nunca morre... Essa história pode durar toda vida não é?

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