Capítulo 15
– Elizabeth Mansen, você me daria à
extraordinária honra de ser a minha esposa?
Deixei que as lágrimas rolassem quando o encarei.
- Não... Sinto muito, mas não posso...
- Ele te pediu em casamento e você o recusou – minha mãe me
olhou, os olhos tristes e cheios de compaixão que eu não merecia.
Balancei a cabeça, tentando voltar ao presente e deixar mais
uma vez aquelas lembranças.
- Eu não podia mãe. Deus sabe o quanto eu tentei continuar
com aquele relacionamento, mas não deu. Edgard é um cara bom e merecia alguém melhor
do que eu, alguém que correspondesse às expectativas dele.
- E o que você fez Liz? Porque não voltou para casa?
Dei um sorriso amargo.
- Edgard e Marcelo eram próximos e obviamente o nosso
rompimento afetou todo mundo. Então fiz algo que sempre sonhei: arrumei as
minhas malas e fui para Paris a estudos. Comprei um apartamento lá e dediquei
os meus dias aos museus. Consegui um emprego temporário no Louvre.
“Liz... você não
precisa ir embora... finalmente sinto que minha filha está em casa.”
Uma fala de Marcelo me atingiu. Logo a afastei. Com o tempo
tornei-me profissional em afastar lembranças que machucavam.
- Bem, pelo menos isso foi algo bom. Desde pequena você
dizia que iria morar na França.
- É... Pois é.
O silêncio voltou. Pela primeira vez durante todo o tempo da
nossa conversa, notei que minha mãe tinha fios grisalhos e muitas marcas de
expressão. Ali estavam às provas de como o tempo passou.
- Creio que nada justifica as suas atitudes: Ir embora por
estar apaixonada por um amigo, o que não há nada de anormal, e ficar sete anos
longe de casa. Sabe o quanto eu senti a sua falta durante todos esses anos? O
quanto fiquei preocupada quando não recebia noticias suas? Não houve um dia
desde a sua partida que não esperei que a qualquer momento você tocasse a campainha
e voltasse para mim, para os seus amigos. – soltou um suspiro cansado – Não sabe
o quanto foi difícil chegar em casa e não te ver, limpar o seu quarto sabendo
que você não entraria lá, nos Natais, aniversários e feriados não estaria
contigo. Até das farras com Ian e Daniele eu senti falta!
- Desculpe... -balbuciei, segurando o choro. Eu não era mais
uma criancinha que lágrimas bastavam para se ter o perdão.
- Ai Liz... - se aproximou e me envolvendo em seus braços –
O que foi que você fez com a sua vida hein?
- Não sei mãe. Todos os dias me questiono isso, o que teria
acontecido se eu houvesse ficado. Acredite, se eu pudesse voltar no tempo
ficaria aqui, com você – a apertei com força, tentando anular a distancia que o
tempo deixou entre nós. – Sei que agi como uma criança. Mas a parte boa é que
realizei os meus sonhos profissionais e Marcelo e eu nos aproximamos.
Ouvi o riso dela. Ela me afastou, sorrindo em meio às
lágrimas grossas.
- Como aquele cafajeste está?
- Depois que Caroline o deixou ele se transformou no Don
Juan – rimos – Ele está bem e fico feliz de estarmos próximos. Ele foi muito
bom pra mim durante todo esse tempo.
- Fico feliz Liz, realmente feliz – me abraçou mais uma vez,
com força suficiente para quebrar minhas costelas – Durante esse tempo eu li
reportagens sobre suas exposições. Que orgulho ter uma filha artista. Fiz
questão de tirar cópias das reportagens e mandar para amigos a parentes. Que bom
que está em casa.
Sorri emocionada. Ela ainda estava magoada, mas eu não podia
culpa-la. De alguma maneira eu ia compensar todo o tempo perdido.
Afastamo-nos e ela foi em direção ao fogão.
- Que tal um bolo de chocolate?
- Acho uma ótima ideia mãe. Faz tempo que sonhos com os seus
bolos.
Ela riu e começou a separar os ingredientes. Levantei da
cadeira e comecei a vagar pelos cômodos. Fui para a sala e respirei fundo o cheiro
de lavanda. Fui para a estante e observei foto a foto: eu ainda bebê, minha mãe
grávida, a festa de Natal, meus amigo e eu. Os enfeites continuavam no mesmo
lugar. Na verdade parecia que a sala havia parado no tempo, nada havia mudado.
Deixei o porta-retrato no lugar quando a campainha tocou
- Atendeu para mim Liz! – minha mãe gritou do cômodo.
Sorri e fui em direção a porta. Ao abrir olhei para os lados
e só quando baixei meus olhos vi uma linda menininha me encarando.
- Quem é você – ela perguntou, os olhinhos verdes em
completa confusão.
Não fazia ideia de quem era. Talvez fosse filha de algum
vizinho. Agachei-me até ficar no mesmo nível que ela.
- Oi, eu sou Liz – falei – E você, que é?
- Eu sou a Helena – respondeu. Que menina linda! Os cabelos
eram ruivos em delicados cachinhos que emolduravam um rostinho branco como o
deu uma boneca. Ela sorriu, mostrando os dentinhos de leite e a falta de dois
deles bem na frente.
- Ei, cadê os seus dentinhos? Tem uma janela ai - brinquei e
ela riu.
- Eles estavam moles, então o papai puxou – mostrou com um
dedinho gordo a abertura - E eu nem chorei.
- É isso ai garota – parabenizei, ficando de pé.
- Cadê a tia Marta?
- Tá na cozinha flor – respondi. Ela deveria vir com frequência,
uma vez que quando respondi ela entrou e foi encontra-la – Tiaaaaaa!!! – ouvi o
grito dela e depois o da minha mãe.
- Helena! Já falei para me esperar.
Ouvi a voz e estaquei.
Olhei para o homem que saía do Volvo preto e subia as
escadinhas com uma sacola de bebê e uma enorme boneca nos braços. Ele não
olhava para cima, apenas no caminho que percorria para não tropeçar. Senti meu coração
descompassado quando pude ver de perto o sorriso dele. O sorriso que mais amava
no Mundo.
Foi então que ele olhou para cima, olhou para mim.
O sorriso desapareceu quando ficamos frente a frente, nos
encarando.
- Liz? – falou receoso.
Forcei um sorriso.
- Como vai Ian?
Comentário da Autora: ahhhhh muleki, e agora? Como vai ser
esse reecontro?
Nossa Senhora, quantas possibilidades na vida dessa moça! Ah, adorei a Helena :]
ResponderExcluirEntão, elogiar a tua escrita, detalhes e criatividade já virou clichê. Eu quero mesmo é que tu poste logo o próximo capítulo! hehehe
Parabéns mais uma vez.