quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Capítulo 15



Elizabeth Mansen, você me daria à extraordinária honra de ser a minha esposa?
Deixei que as lágrimas rolassem quando o encarei.
- Não... Sinto muito, mas não posso...

- Ele te pediu em casamento e você o recusou – minha mãe me olhou, os olhos tristes e cheios de compaixão que eu não merecia.
Balancei a cabeça, tentando voltar ao presente e deixar mais uma vez aquelas lembranças.
- Eu não podia mãe. Deus sabe o quanto eu tentei continuar com aquele relacionamento, mas não deu. Edgard é um cara bom e merecia alguém melhor do que eu, alguém que correspondesse às expectativas dele.
- E o que você fez Liz? Porque não voltou para casa?
Dei um sorriso amargo.
- Edgard e Marcelo eram próximos e obviamente o nosso rompimento afetou todo mundo. Então fiz algo que sempre sonhei: arrumei as minhas malas e fui para Paris a estudos. Comprei um apartamento lá e dediquei os meus dias aos museus. Consegui um emprego temporário no Louvre.
“Liz... você não precisa ir embora... finalmente sinto que minha filha está em casa.”
Uma fala de Marcelo me atingiu. Logo a afastei. Com o tempo tornei-me profissional em afastar lembranças que machucavam.
- Bem, pelo menos isso foi algo bom. Desde pequena você dizia que iria morar na França.
- É... Pois é.
O silêncio voltou. Pela primeira vez durante todo o tempo da nossa conversa, notei que minha mãe tinha fios grisalhos e muitas marcas de expressão. Ali estavam às provas de como o tempo passou.
- Creio que nada justifica as suas atitudes: Ir embora por estar apaixonada por um amigo, o que não há nada de anormal, e ficar sete anos longe de casa. Sabe o quanto eu senti a sua falta durante todos esses anos? O quanto fiquei preocupada quando não recebia noticias suas? Não houve um dia desde a sua partida que não esperei que a qualquer momento você tocasse a campainha e voltasse para mim, para os seus amigos. – soltou um suspiro cansado – Não sabe o quanto foi difícil chegar em casa e não te ver, limpar o seu quarto sabendo que você não entraria lá, nos Natais, aniversários e feriados não estaria contigo. Até das farras com Ian e Daniele eu senti falta!
- Desculpe... -balbuciei, segurando o choro. Eu não era mais uma criancinha que lágrimas bastavam para se ter o perdão.
- Ai Liz... - se aproximou e me envolvendo em seus braços – O que foi que você fez com a sua vida hein?
- Não sei mãe. Todos os dias me questiono isso, o que teria acontecido se eu houvesse ficado. Acredite, se eu pudesse voltar no tempo ficaria aqui, com você – a apertei com força, tentando anular a distancia que o tempo deixou entre nós. – Sei que agi como uma criança. Mas a parte boa é que realizei os meus sonhos profissionais e Marcelo e eu nos aproximamos.
Ouvi o riso dela. Ela me afastou, sorrindo em meio às lágrimas grossas.
- Como aquele cafajeste está?
- Depois que Caroline o deixou ele se transformou no Don Juan – rimos – Ele está bem e fico feliz de estarmos próximos. Ele foi muito bom pra mim durante todo esse tempo.
- Fico feliz Liz, realmente feliz – me abraçou mais uma vez, com força suficiente para quebrar minhas costelas – Durante esse tempo eu li reportagens sobre suas exposições. Que orgulho ter uma filha artista. Fiz questão de tirar cópias das reportagens e mandar para amigos a parentes. Que bom que está em casa.
Sorri emocionada. Ela ainda estava magoada, mas eu não podia culpa-la. De alguma maneira eu ia compensar todo o tempo perdido.
Afastamo-nos e ela foi em direção ao fogão.
- Que tal um bolo de chocolate?
- Acho uma ótima ideia mãe. Faz tempo que sonhos com os seus bolos.
Ela riu e começou a separar os ingredientes. Levantei da cadeira e comecei a vagar pelos cômodos. Fui para a sala e respirei fundo o cheiro de lavanda. Fui para a estante e observei foto a foto: eu ainda bebê, minha mãe grávida, a festa de Natal, meus amigo e eu. Os enfeites continuavam no mesmo lugar. Na verdade parecia que a sala havia parado no tempo, nada havia mudado.
Deixei o porta-retrato no lugar quando a campainha tocou
- Atendeu para mim Liz! – minha mãe gritou do cômodo.
Sorri e fui em direção a porta. Ao abrir olhei para os lados e só quando baixei meus olhos vi uma linda menininha me encarando.
- Quem é você – ela perguntou, os olhinhos verdes em completa confusão.
Não fazia ideia de quem era. Talvez fosse filha de algum vizinho. Agachei-me até ficar no mesmo nível que ela.
- Oi, eu sou Liz – falei – E você, que é?
- Eu sou a Helena – respondeu. Que menina linda! Os cabelos eram ruivos em delicados cachinhos que emolduravam um rostinho branco como o deu uma boneca. Ela sorriu, mostrando os dentinhos de leite e a falta de dois deles bem na frente.
- Ei, cadê os seus dentinhos? Tem uma janela ai - brinquei e ela riu.
- Eles estavam moles, então o papai puxou – mostrou com um dedinho gordo a abertura - E eu nem chorei.
- É isso ai garota – parabenizei, ficando de pé.
- Cadê a tia Marta?
- Tá na cozinha flor – respondi. Ela deveria vir com frequência, uma vez que quando respondi ela entrou e foi encontra-la – Tiaaaaaa!!! – ouvi o grito dela e depois o da minha mãe.
- Helena! Já falei para me esperar.
Ouvi a voz e estaquei.
Olhei para o homem que saía do Volvo preto e subia as escadinhas com uma sacola de bebê e uma enorme boneca nos braços. Ele não olhava para cima, apenas no caminho que percorria  para não tropeçar. Senti meu coração descompassado quando pude ver de perto o sorriso dele. O sorriso que mais amava no Mundo.
Foi então que ele olhou para cima, olhou para mim.
O sorriso desapareceu quando ficamos frente a frente, nos encarando.
- Liz? – falou receoso.
Forcei um sorriso.
- Como vai Ian?



Comentário da Autora: ahhhhh muleki, e agora? Como vai ser esse reecontro?

Um comentário:

  1. Nossa Senhora, quantas possibilidades na vida dessa moça! Ah, adorei a Helena :]
    Então, elogiar a tua escrita, detalhes e criatividade já virou clichê. Eu quero mesmo é que tu poste logo o próximo capítulo! hehehe
    Parabéns mais uma vez.

    ResponderExcluir