sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

III - PRIMEIRO DIA DE AULA


Primeiro dia de aula...
Que merda.
Tateei de olhos fechados o criado mudo ao lado da cama e ao sentir a textura da capa dura de um livro o peguei e bati continuamente no despertador até ouvir um cleck de alguma coisa quebrada.
A paz reinou no quarto novamente e me permiti mais cinco minutinhos abençoados de sono... e acabei acordando meia hora atrasada!
Joguei as cobertas longe e sai estabanada da cama, a juba do meu cabelo piorando a minha visão repleta de ramelas de sono. Entrei no closet e peguei uma calça jeans, camiseta com estampa do Thundercats  e um chinelo Havaianas amarelo e me vesti com pressa. Passei no banheiro, joguei uma água no rosto, prendi meus cabelos num rabo de cavalo alto e dei um sorrisinho amarelo para meu reflexo, zuando a mim mesma.
Desci as escadas correndo, pegando no caminho minha mochila e dando de cara com o rosto angelical de Laura que parecia ter saído recentemente de uma revista de moda.
- Bom dia querida, dormiu bem? – falou me estendendo uma xicara de café fumegante.
- Como uma pedra – respondi engolindo o liquido que desceu como fogo pela minha garganta. Senti um rubor de calor subir pelo meu rosto. – Cadê a fruteira?
- Joguei fora aquela coisa velha, guardei as frutas na gaveta da geladeira – Disse e eu abri com força a geladeira e tirei de lá uma maça verdinha e fresca. - Não vai tomar café da manhã?
Apontei a maça para ela indicando a minha refeição e marchei em direção à porta
- Paaaiiiiiii – gritei para as escadas recebendo um “já vou!”
- Não vai se arrumar para a escola filha?
Olhei pra ela com cara de “Como é que é?”.
- Já estou pronta – murmurei azeda dando mais uma mordida na maça que devia sangrar a essa altura.
- Poderia pelo menos calçar um sapatinho bonitinho ou quem sabe passar um batom nos lábios...
- Vamos filha – meu pai falou me puxando pelo pulso em direção à porta – Tchau amor.
- Tchau!
- Obrigada – murmurei entrando no carro – Mais dois minutos e eu sairia de casa como uma boneca Barbie.
Meu pai riu enquanto dava partida no carro. Durante o trajeto conversamos sobre o trabalho dele e ele me contou sobre os problemas que a empresa estava dando, principalmente com funcionários. Quando percebi o carro já estava parado em frente a minha nova escola.
- Bem, é aqui. Qualquer coisa você já sabe, basta me ligar... Quais são as regras?
Ri diante do olhar do meu pai, levar suas regras a sério era uma missão difícil.
- Não chegar em casa tarde, não aceitar nenhum doce ou qualquer coisa que remeta a drogas, não tirar notas baixas e jamais aparecer gravida em casa se não for do meu marido – recitei.
- Boa garota, nos vemos mais tarde.


Desci do carro e esperei ele desaparecer das minhas vistas.
Encarei o colégio novo, as pessoas novas e senti meu estomago dando voltas.
- Não seja covarde – murmurei para mim mesma e caminhei com passos apressados até a minha sala de aula.
Com certa facilidade achei a sala indicada. Quando entrei assustei-me por encontra-la tão cheia. Minhas malditas bochechas coraram ao serem alvo de todos aqueles alunos, uns me encarando com curiosidade outros com zombaria.
Identifiquei rapidamente os grupinhos da sala: tinha os nerds na primeiras carteiras, os engraçadinhos e pegadores na fila da parede, as vacas leiteiras no meio da sala e o dorminhocos, reprovados e anti-sociais  no fundo da sala.
Sentei na penúltima fila de cabeça baixa, entre os reprovados e as gralhas peitudas, esperando que os burburinhos que se formaram desaparecessem. O professor de história entrou na sala com um sorriso iluminado no rosto. Aos poucos as conversas se findaram e todos prestaram a atenção no professor baixinho e simpático que dizia palavras de boas vindas e apresentações.
- Sei que a maioria se conhece há muito tempo, mas sei também que temos alunos novos esse ano. Levantem a mão e digam o seu nome a turma.
Ergui a mão timidamente e me assustei ao ver cerca de 30 pares de olhos sobre mim. Pelo visto eu era a única novata.
- Oi querida, Qual é o seu nome?
Respirei fundo rezando para não gaguejar.
- Elizabeth
- Seja bem-vinda Elizabeth, espero que todas a recebam muito bem – disse olhando para todos.
- Ela é bem-vinda na minha casa! – Virei em direção a voz em meio ao mar de risos. Um ruivo de nariz grande piscou para mim me mandando um beijinho.
- Não liga para ele – uma voz sussurrou. Olhei para trás – Guilherme  gosta de implicar com todos, é o piadista da nossa turma.
- Percebi – murmurei.
- A propósito meu nome é Caroline.
Sorri para a loira de olhos azuis e virei-me para frente.
Aquele prometia ser uma dia longo.






quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

II - TARDE DE MUDANÇA 




A casa não era bem o que eu esperava... Ok, na verdade não era nada do que eu esperava.
Nas minhas idealizações de lar, era mais provável o nosso novo imóvel ser uma oca do que a luxuosa casa que eu encarava de olhos franzidos.
Laura dava gritinhos de alegria e dava ordens aos responsáveis pela mudança enquanto o meu pai descarregava algumas caixas do carro e entregava aos homens suados.
- Vai querida, pode entrar e ir conhecendo a casa – encorajou-me Laura com um sorriso.
Dei de ombros e andei em direção à porta de entrada, quase caindo ao esbarrar em um pilha de caixas e embalagens acumuladas no hall de entrada. Olhei para todos os lados, abobada com a decoração impecável e provavelmente muito cara.



Andei com cuidado em meio a bagunça e curiosa comecei a examinar cômodo por cômodo do primeiro andar, e quando a curiosidade ficou incontrolável, subi as escadas de dois em dois degraus em direção aos quartos.
O corredor era extenso e levava a cinco portas. Segundo Laura um era deles, outro meu e os demais para possíveis visitas ou até empregados que trabalhassem para nós. Andei até o último e parei em frente, meio que pressentindo que aquele era o meu.
Girei a maçaneta e meus olhos se esbugalharam diante do meu novo quarto.


ROSA, ROSA, COR-DE-ROSA, BRANCO, ROSA.
Por favor, eu tenho que acordar desse pesadelo... Prefiro que o Freddy Krueger venha me buscar...
- Gostou filha?
“Jesus é mais” , pensei ao levar um susto com a presença repentina de Laura.
- Gostou? – repetiu, sorrindo.
Um pecado a mais... Um a menos, não faz tanta diferença né?
- Adorei  - respondi forçando um sorriso para ela e depois se intensificando, mas com escárnio, em direção ao veado colorido no meio do quarto.
- Que bom, a arquiteta fez mesmo um lindo trabalho. Adorei o alce. – disse olhando ao redor – Vou descer e ajudar o seu pai com o resto das nossas coisas...já olhou o banheiro? Ficou divino!
Mais fortes emoções não senhor, roguei suspirando.
- Já vou ver.
Esperei ela sair das minhas vistas para desfazer o sorriso. Depois passei cautelosamente pelo alce em direção ao banheiro que já estava com a porta aberta. Um sorriso genuíno se formou ao ver a simplicidade e conforto do local.
Depois de dar mais uma volta pela casa e conhecer os cômodos, peguei de dentro de uma das caixas uma calça de moletom surrada, chinelos de dedo e uma camiseta com a estampa do frajola na frente e me troquei. Coloquei meus óculos de grau (porque por mais que eu tentasse passar o dia todo sem ele ficava difícil depois de um tempo ver alguma coisa direito) e amarrei meus cabelos em um rabo-de-cavalo frouxo.
Passei pelo meu pai dando um sorriso e comecei pegando as caixas menores e levando ao meu quarto. Liguei o aparelho de som em uma musica animada e me dediquei as tarefas de levar caixas, desembrulhar pertences, limpar e guardar.


Primeiro organizei meus tênis, sandálias, pantufas, botas e uma grande coleção de chinelos no pequeno closet. Depois comecei a organizar meus livros nas estantes e prateleiras para em seguida enfileirar minhas antigas bonecas e ursos de pelúcia.
Com cuidado coloquei minha caixa de materiais em cima da escrivaninha e ajeitei o porta-canetas abarrotado. Passei um pano no notebook, tablet, coloquei uma escultura de inox em forma de bailarina em cima do criado mudo, desembalei o despertador, o abajur com liquido dentro, os quadros que eu havia pintado, os estojos de maquiagem, a caixa de cremes e esmaltes, os enfeites coloridos, o porta-joias, a caixinha de musica... Era tanta coisa que eu nem sabia que possuía.
Nessa altura do campeonato já passava das cinco da tarde, meu quarto estava parcialmente arrumado, minha barriga clamava por comida e o cansaço quase me levando a se jogar na grande e ridícula cama do quarto.
Ouvi a campainha tocar lá embaixo, provavelmente mais entregas.
Seguei o suor e desci as escadas para pegar mais uma caixa, dessa vez com roupas quando estaco no meio do caminho.
Laura está de costas para mim e a sua frente, chamando a atenção do meu olhar estava... Bem, acho que o cara mais gato que já vi na vida. Nada surreal tipo Edward Cullen, até porque a cidade é grande e ensolarada, mas com toda a certeza do tipo que merece uma segunda, terceira até quarta olhada.
Desci o resto das escadas, meu coração batendo em um ritmo acelerado (deve ser obviamente das caixas que levei escada acima né) e sentindo minhas bochechas mudarem drasticamente de cor.
Abaixei a cabeça e rumei em direção à caixa maior. Preparei-me para levanta-la e um resmungo saiu pelos meus lábios com o peso dela.
- Quer ajuda?
Estaquei ao ouvir a voz rouca e grave.
Laura se virou e quando percebi eu estava na ridícula posição, com a roupa marcada de suor, os cabelos grudando no rosto e com dois pares de olhos me encarando: um em compreensão o outro com divertimento.
Ergui-me e tentei me arrumar o mais dignamente possível, fazendo a cara de quem não está nem ai.
- Ian, essa é minha filha, aquela que te falei no jantar na sua mãe – ela me sorriu encorajando a me aproximar. Permaneci – Helena esse é o filho da Caroline Maitland, a minha sócia lembra?
- Ah, claro – pigarrei – hey.
HEY? EU DISSE HEY PARA AQUELE DEUS GREGO FAZENDO VISITA A MORTAIS DA TERRA?
Do que adiantou passar tanto tempo lendo reportagem do tipo “Conquiste já!” ou “Arrase em todas” da revista Capricho e TodaTeen???
Porque meu Deus, porque eu nasci tão retardada? Cadê o buraco para se enfiar quando se precisa?
Vi ele se aproximar lentamente, os olhos verdes brilhando de divertimento e um sorriso suave nos lábios carnudos. Quase dei um pulo ao sentir um leve roçar de lábios no meu rosto.
- É um prazer conhece-la Helena, há muito tempo venho escutando sobre você.
- Espero que minha mãe não tenha dito a verdade – murmurei e me chutei mentalmente ao perceber que havia dito tudo em voz alta.
Ele deu uma risadinha, voltando-se para Laura.
- Bem, eu tenho que ir. Tenho uma reunião na revista daqui a pouco. Se tiver alguma duvida basta ligar para mim ou para a minha mãe – ele já ia em direção a saída quando parou – Vocês vão no jantar lá em casa sexta né?
- Claro que sim, pode confirmar com a sua mãe. – Laura respondeu e eu só fiquei observando tudo.
- Nos vemos sexta então – falou, mas antes se virou e me encarou – Te espero lá Helena.





Notas da autora: ai caramba, vai ser O OME AUHSUAHSUAHS. Obrigado aos comentários, as pessoas que estão lendo e acompanhando as minhas histórias, isso me motiva muito!!!
Não deixem de cometar, só assim saberei se vocês estão gostando ou não e adoro receber criticas e sugestões.

Abraços, até a próxima :)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


PRÓLOGO



    Verona é um lugar legal.
   Tudo bem, mesmo sendo o meu sonho, não me refiro a terra de Romeu e Julieta e sim a um bairro bacana de gente granfina para o qual meus insistiram em se mudar. Eu poderia fazer um escândalo ou ter chorado até estar com o nariz entupido de meleca para continuarmos no antigo apartamento isolado de qualquer meio de comunicação humana ou na escola que frequentei desde os meus tenros 6 anos de idade...mas eu estava terrivelmente cansada de ser alvo de chacotas e ser chamada de a rainha da aberração da natureza.
   Pensei nas manhas isoladas na escola e nos insultos e agressões que sofria pelos meus adorados colegas de turma ou a escola toda quem sabe apenas por ter um estilo...digamos...eclético e preferir a companhia de um livro ou cálculos de física nas mãos ao contrario de toda a população feminina. E também pelas tardes aprendendo receitas no canal gourmet e as noites de sábado assistindo a novela das oito.
   Por isso em pouco tempo não pensei duas vezes e embalei o resto dos meus pertences na caixa de papelão e levei ao carro.
   Foi estranho olhar pela ultima vez o lugar que passei toda a minha vida. Olhei atentamente para a varanda no apartamento, a cor de areia das paredes e o pequeno parquinho ao lado. Respirei profundamente o cheiro do outono e embarquei no carro junto com meus pais e fiquei observando pelo vidro o meu passado até tudo desaparecer.






I- A NOVA VIDA


Música tema do capítulo: http://www.youtube.com/watch?v=b_mwlrkBPT



  O carro parecia uma sauna e minhas roupas grudavam desconfortavelmente na pele. O sol lá fora estava de rachar e com um sorriso irônico imaginei que o Diabo devia estar rindo da minha cara por estar toda de couro e preto em plenos 32°C.
- Você vai adorar o lugar querida – disse Laura, um protótipo de boa mãe do banco da frente – A praia fica a menos de uma quadra da nossa casa e da para ver o mar da sua sacada...
Por um momento (e muito breve) senti pena dela.
   Nas ultimas semanas ela vinha se empenhando em ser uma boa mãe, tentando se aproximar e fazer todo o tipo de mimo, uma vez que ao ser promovida, eu a via apenas duas vezes por semana.
   Não que eu sentisse falta disso, pelo contrário.
  Quem havia me criado foi meu pai, meu melhor amigo. Meu nascimento havia sido um acaso do destino sendo que minha mãe só descobriu a gravidez aos quatro meses de gestação. Dona de várias butiques de maquiagens e roupas finas pela cidade, ela era o espelho do sucesso profissional, e para mim o fracasso maternal e familiar. Ela vivia para desfiles, tendências, compras e luxo. Na sua agenda não havia tempo para o marido e muito menos para mim. Talvez para suprir essa ausência, essa sensação de vazio que eu e meu pai nos tornamos tão dependentes um do outro.
   Olhei para o retrovisor e vi Laura. As diferenças entre nós eram gritantes
  Capa de revista poderia defini-la: alta, pele bronzeada, corpo curvilíneo e com tudo no lugar, olhos azuis piscina como os meus, cílios longo de dar inveja e cabelo loiro, longo e liso de propaganda. Ela estava à beira dos quarenta, mas dificilmente alguém lhe daria mais de trinta.
   Já eu...bem...sou de estatura média, reta que uma tabua, cabelos castanhos indecisos entre o liso e cacheado, pele queimada de sol e próxima candidata a mutante no X-Men, prazer.
-...E então eu mandei  a arquiteta colocar uma poltrona de veludo rosa pra combinar com a cortina e o abajur, e a cama com dossel ficará linda com a escrivaninha de carvalho.
Ela me olhou com um sorriso de expectativa.
- O que você acha filha?
Droga, do que ela estava falando mesmo?
 Piloto automático ativado.
- Concordo com tudo – respondi forçando um sorriso com a resposta habitual para “não sei do que você está falando”.
- Quer fazer uma parada para comer um lanche filha? – meu pai perguntou ao parar na sinaleira.
- “To” sem fome pai.
   Meu pai, Eduardo, é dono de uma transportadora dos mais variados produtos. A barriga de Chopp começou a dar os seus primeiros sinais pela falta de exercícios e eu aconselharia tinta para cabelos grisalhos. Porem, tirando isso ele deve ter arrancado alguns corações na juventude (essa era a única explicação que conheço para estar casado com Laura).
    Ele é o meu melhor amigo.
  Assistíamos futebol comendo salgadinhos, pipoca e bebendo cerveja (eu sei, habito de homem), caminhávamos nos fins de tarde, jogávamos videogame, íamos ao cinema e até dormíamos na rede. Ele me ajudava a fazer o jantar ou limpar a casa e sempre nos divertíamos com isso.
   Como pai ele aconselhava, dava sermões, carona pra casa, dinheiro para o lanche e até passava a minha roupa embora eu já o tivesse proibido de realizar essa tarefa. Ele era o porto seguro, a companhia de todas as horas.
   Ele foi o amigo que não tive durante toda a minha vida e preencheu as lacunas que a falta de uma mãe causa.
   Estava tão absorta em pensamento que não notei que o carro havia parado.
- Bem...eis nosso novo lar – falou meu pai.
   Olhei para a casa luxuosa, lugar onde eu começaria a minha nova vida.





Notas da Autora: então, está ai mais uma história que surgiu há alguns meses como anotações em um caderno e agora em forma de livro no blog. A outra história que publiquei é a minha xodó mas infelizmente só postarei novamente daqui há algumas semana, a inspiração vem me faltado e quando você se apega a personagens a preocupação de escrever um excelente capítulo é constante.

Peço que por favor comentem!

Só assim saberei se estão gostando ou não e adoro receber dicas e sugestões.

abraços,

Agbenelli





segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Capítulo 17




- Eu não sabia... – murmurei, encolhida na minha cama. Minha mãe estava sentada do meu lado.
- Tudo bem, no fundo ele sabe que você não disse por querer. – tranquilou-me.
- Quando foi que...quando ela morreu?
- Marina morreu durante o parto devido a perda excessiva de sangue. Foi terrível para todos nós que acompanhamos de perto a gravidez dela. Ian estava tão feliz! Tão sorridente por ser uma menina! – ela disse, sorrindo – Quando ela morreu, ele entrou em depressão profunda, nem queria ver a menina. Graças a Deus ele voltou a si, voltou para Helena. Sei que se não fosse por ela, talvez ele não houvesse persistido em viver.
Respirei fundo, mergulhada em intensa compaixão.
Ele perdeu a esposa e criara sozinho a filha. Quem diria que um dia Ian seria pai…? Ou melhor, quem diria que a pessoa bem humorada e ativa iria se tornar um homem sério e protetor?
- Depois de uns meses após a morte da Marina, Ian voltou pra faculdade e se formou em medicina. Não sei se foi pelo ocorrido com a esposa, mas algum tempo depois ele se especializou e tornou-se um dos melhor obstetras da região. Ele fez o parto dos trigêmeos da Daniele.
- TRIGÊMIOS??? – gritei, rindo. – Meus Deus, três crianças de uma só vez...só podia ser da Danieli mesmo.
Minha mãe riu.
- É engraçado a ver levando três carrinhos de uma vez. São dois meninos e uma menina.
- Quais os nomes?
- Acho que é Romeo, Jack e Elizabeth – falou, me olhando.
Os dois primeiros nomes eram provavelmente influencias do Leonardo di Caprio e seus personagens.  Mas o terceiro...
- Ela escolheu o seu nome por homenagem a amizade de vocês.
Comecei a chorar de emoção. Minha amiga tinha feito aquilo por mim...roguei a Deus que ela me perdoasse.
- Nem sei o que dizer...amanhã vou na casa dela vê-los.
- Faça isso – minha mãe disse, levantando-se com um bocejo – Vou dormir. A casa é sua, você sabe.
- Eu sei – sorri para ela.
- Boa noite filha.
- Boa noite mãe.
E pela primeira vez em anos dormi tranquilamente.


POV Ian

“ Não posso voltar no tempo e acredite, se eu pudesse mudaria tudo. Todos os dias as suas lembranças me matavam de saudade”.

- Papaii, a agua tá fia.
Balancei a cabeça e sai dos devaneios.
- Desculpa princesinha – sorri para Helena, enrolando-a na toalha cor-de-rosa e tirando-a da banheira infantil. A coloquei de pé no toucador – Qual pijama você quer?
- O da Mini pai- falo, as perninhas e bracinhos gordinhos balançando inquietos.
Fui até o quarto adjacente ao banheiro e tirei do armário o pijama. Coloquei a peça de algodão e depois peguei uma escova no formato de um coração, passando-a levemente pelos cachinhos ruivos. Iguais aos da mãe.
- Pai, compra oto xampu?
Franzi o cenho diante do biquinho dela. Ela sorriu, revelando os dentinhos de leite. Peguei-a no colo e levei em direção ao quarto dela. Quando ele foi construído, Marina e eu nos dedicamos a decoração ao saber que seria uma menina. Pintamos nós mesmos em meio à guerra de tinta as paredes na cor rosa, mais tarde colando adesivos de borboletas. O berço, a cama de solteiro, as prateleiras, o toucador, o guarda-roupa e os mobiles haviam sido escolhidos por ela em uma tarde de verão. Minha única função foi montar tudo e carregar as sacolas.
“Mais rápido lesma, as lojas vão fechar daqui a pouco” – ela dissera praticamente correndo nos pequenos saltos altos, a barriga de cinco meses não a impedindo.
- Por que você quer trocar de xampu? Você sempre gostou dele – argumentei. Ela revirou os olhos, exatamente como a ame fazia.
- A filha da tia tem um cabelo bonito e cheloso. Tem Chelo de molango.
Estaquei enquanto a cobria.
- Quem filha?
- A filha da tia – repetiu, se ajeitando na cama. – Ela é muito bonita né pai?
- É... Muito bonita – concordei ao relembra-la – Agora durma, amanha tenho que te levar até a “tia”.
Helena não a chamava pelo nome
- Será que ela vai tá lá? Acho que o nome dela é Liz... Tipo da bebe da tia Dani.
- É meu amor- falei beijando o rosto redondo e corado – o nome dela também é Liz. Mas agora vamos dormir ok?
- Tá. Eu te amo – ela disse em meio a um bocejo e em pouco tempo pegou no sono.
Fiquei mais um tempo ali, velando pelo sono dela. Com passos lentos e silenciosos fui para o meu quarto e fechei a porta. Ele era grande demais para um só e era pequeno demais quando havia a Marina.
Eu o preferia pequeno.
Deitei na cama macia e espaçosa, fitando o teto. Pela primeira vez em anos meus pensamentos não voaram para o passado. Não lembraram momentos felizes que tive.
Eles estavam irrevogavelmente voltados para Elizabeth... A minha Liz.
Minha nada me corrigi, irritado.
Deus... Como eu sentira falta dela! Fora um choque encontra-la ali, diante das escadas, o passado momentaneamente apagado. Era como se tivéssemos 17 anos outra vez e ela estivesse me esperando na porta de casa para tomarmos um sorvete.
Claro, não havia nada de infantil na Liz de hoje.
Ela era bonita quando criança e adolescente, minha mente graças a Deus não apagou isso. Porém, nada me preparara para encontrar uma mulher linda e encantadora. A pele branca e imaculada era perfeita para os cabelos longos e inomináveis: nem loiros nem castanhos. Era a cor Liz, somente dela. Nunca havia visto nada parecido.
O rosto tinha os traços suaves, os olhos expressivos e lábios generosos. O corpo era pequeno, mas curvilíneo. A magrela havia desaparecido.
Mas o fato de estar linda não muda nada, pensei. Ela havia ido embora, fora por impulso como uma criança mimada. Havia abandonado amigos e família por capricho e fora morar com um pai que jurava repudiar... Não dera a mínima para os meus sentimentos nem os de ninguém. Claro, eu  admitia que havia sido tão criança quanto ela mais cedo. A raiva e magoa vieram com tanta força que me assustaram. Eu não sabia da intensidade da saudade e dos sentimentos que eu sentia e reprimia até vê-la.
Quando a abracei... Merda... Por um momento foi como se tudo voltasse ao normal, eu estava completo... E cristo, meu corpo não foi nenhum pouco obediente quando nossos corpos se tocaram.
Suspirei e esfreguei as mãos no rosto com força. Amanhã eu levaria Helena para ficar com Marta e consequentemente, caso Liz não tenha ido embora, vai ficar com ela também. Eu não queria que minha filha ficasse com Liz. Claro, eu tinha certeza de que ela seria incapaz de fazer algo contra o meu anjo, até porque, antes de me ver, vi a genuína alegria no rosto das duas ao se verem.
“A filha da tia tem um cabelo bonito e cheloso. Tem Chelo de molango.”
Agora era só o que me faltava: Helena começar a pedir tudo o que Elizabeth tem, começando agora pelo shampoo.
Decidi, satisfeito comigo mesmo, que conversaria com calma amanhã com Liz e deixaria tudo bem claro, o que eu queria e o que eu não queria. Assim, não haveria problemas.
Na minha cabeça estava tudo ok, mas isso não bastou para o meu corpo relaxar e eu dormir. Pelo visto seria uma longa noite, ainda mais se o cheiro dos cabelos de Liz não saírem da minha cabeça...





Gente, o POV quer dizer: ponto de vista.

Isso são bônus que podem ocorrer com Ian ou Helena, eles contando a história

ps: essa menina vai aprontarr ahsuahsuahsuhas. A inspiração sou eu mesma quando pequena kkk. Últimos capítulos, o que será que vai acontecer?
bjos


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Capítulo 16






- Como vai Ian?

TUM-TUM, TUM-TUM.
Ele era real e estava na minha frente. Por um longo momento senti que o Mundo girava em uma direção oposta a minha. Os cabelos negros e abundantes e os olhos verdes e profundos estavam lá, mas não havia nada de infantil no corpo musculoso nem nas feições fechadas. O sorriso caloroso que sempre me recebia desapareceu.
Ian parecia não saber o que fazer também, uma vez que ficou imóvel, seus olhos percorrendo-me de cima a baixo.
Saia, ele vai te chutar... uma voz disse a minha cabeça.
- Precisamos conversar – falou rispidamente, passando por mim – Helena?
- Oi papai – a menininha ruiva disse correndo na sua direção. Ele a pegou nos braços.
- Espero não estar incomodando Marta – falou, quando minha mãe entrou afoita na sala onde estávamos. Seus olhos estavam arregalados, passando de mim para Ian.
- É claro que não, sabe que eu adoro essa menina.
FILHA??? , quase surtei ao repetir a frase mentalmente.
Merda, como não reparei nos olhos da menina? Eram iguais aos de Ian. Todavia, os traços delicados e os tons ruivos de cabelo e sobrancelhas pertenciam a mãe.
- Dê ela para mim – minha mãe a retirou do colo dele – Creio que vocês queiram conversar. Que tal me ajudar a fazer o bolo Helena?
- Clarooo! – ela deu um gritinho e desceu do colo em um salto.
Quando as duas saíram, a sala parecia claustrofóbica.
- Que tal irmos ao meu quarto? – falei. Por favor, que ele não pense que vou pular nele...
- Pode ser.
Subimos em silencio até o cômodo e ao chegar lá me encolhi com o barulho da porta batendo com força.
Ian me olhou. Um olhar profundo, indecifrável. Minha vontade era me jogar aos pés dele e pedir perdão. Implorar para que apagasse tudo e que não me odiasse, mesmo ele tendo todo o direito.
Abri a boca para dizer algo, mas não houve tempo: Em um movimento brusco, Ian diminuiu a distância que nos separava e me envolveu em um abraço de urso, suas mãos segurando com força o meu corpo contra o dele. Retribui o gesto, desesperada para que o contato se prolongasse e preenchesse os vazios de sua ausência.
- Liz...-murmurou, seus dedos mergulhados em meus cabelos.
Eu queria beija-lo.
Não um beijinho entre amigos ou conhecidos que não se veem a tempo. Queria beija-lo como mulher. Era loucura, mas como eu queria.
Isso era surreal, mas a rejeição era esperada. No mínimo ele me chamaria de louca ou coisa pior, então me contentei em estar entre seus braços.
- Onde você esteve todo esse tempo? Como ousa voltar aqui como se nada houvesse acontecido? – o choque das palavras carregadas de fúria me fez encolher.
Assim como o abraço foi inesperada a separação abrupta também foi.
- Voltei para a minha casa, simples – me defendi.
- Agora essa é a sua casa – falou dando uma risada – Você não tem noção de como eu fiquei furioso, puto da cara quando você partir sem ao menos se despedir. Queria fazer uma ceninha de despedida, parabéns, conseguiu.
- Sabe que detesto despedidas, preferi nos poupar disso.
- Poupar? Uma noite estamos conversando pessoalmente, na seguinte ligo para você e sua mãe diz que foi morar com o seu pai, do nada.
Aquilo soava um absurdo até para os meus ouvidos.
- Já tinha tomado essa decisão há algum tempo – falei, dando de ombros.
- Legal – falou dando-me as costas – Por muito tempo fiquei me questionando se foi algo que fiz. Daniele fez o mesmo. Até hoje ela não consegue pronunciar o seu nome.
Meu coração estava em frangalhos. Eu merecia ser atacada com palavras, mas não sabia quanta dor eu poderia sentir com isso.
- Vocês são os meus melhores amigos, queria evitar brigas pelos motivos de eu ir. Sei que vocês tentariam me impedir ou ficariam furiosos. Seja qual fossem as opções, iria magoar alguém.
- Se você realmente se importasse conosco teria nos contato. Se tivesse se arrependido teria voltado. Passaram-se sete anos e você não veio uma única vez nos visitar, uma! Todos os dias liguei para você, tentei entrar em contato. Houve uma vez que eu e Daniele guardamos dinheiro para visita-la – relembrou, sorrindo amargamente – E você deixou o recado para a empregada de que iria viajar e não poderia nos receber. Acho que o pior de tudo era ver a tristeza estampada no rosto da sua mãe. Ela se sentiu traída por você. Você deixou de lado a mulher que te criou e amou para ficar com o homem que mal lembrava da sua existência.
- Não fala assim do Marcelo. Eu também pensei assim, que ele não me queria, mas a verdade é que a minha mãe nos separou, o impedindo de me ver e... – menti. Ele me ignorou e continuou.
- Sabe... - continuou, ignorando as minhas palavras... Durante todos esses anos eu imaginei como seria caso eu a reencontrasse. Achei que o tempo diminuiria a raiva e que eu a trataria como um adulto. Mas agora estou sentindo os mesmo sentimentos de quando você partiu.
- Eu sinto muito...
- Sente mesmo? Então porque não sentiu há sete anos?
- Tive medo droga! Medo de não me receberem! E querendo ou não, as experiências que vivi foram boas...
- Teve medo antes e agora não? – murmurou sarcástico. Ele se aproximou me segurando pelos ombros.
- Me solte! Você não sabe meus motivos de partir! – gritei
- Então me diga... Diga por que foi embora sem se despedir. Diga por que magoou todas as pessoas que te amavam, diga por que deixamos de existir para você durante esse tempo.
Eu chorava e não me importava com isso. Chorava de raiva de mim mesma.
Chorava pelo fato de nem poder contar os meus motivos. Se eu o fizesse só pioraria tudo.
- Viu? – falou, me empurrando – nem você sabe. Não passa de uma garotinha mimada e fria.
- Vá embora daqui! – gritei furiosa. As palavras dele me cortaram como navalhas afiadas – Não posso voltar no tempo e acredite, se eu pudesse mudaria tudo. Todos os dias as suas lembranças me matavam com a saudade. Quando voltei, sabia que nem todos aceitariam e me receberiam de braços abertos. Sei que está com raiva, mas não com tanta intensidade. Não posso culpar por me odiar – ele me olhou com a expressão confusa e eu o ignorei – Você tem motivos de sobra para isso, mas não permitirei que me insulte. Veja o lado bom...-falei, cega pelas lágrimas, rindo como louca – Com a minha partida todos se casaram e tiveram os seus finais felizes. Sei que Daniele se casou com o Eduardo e você com a Marina. Sua filha é linda, você tornou-se médico como o sonhado e eu? Eu não tenho nada!
- Não tem por culpa totalmente sua e...
- Cala a boca! Eu sei o que fiz e sei como se sentem. Não espero que me perdoem, mas que pelo menos me deixem voltar para o meu lugar. Não vou cobrar a amizade eterna que um dia me ofereceu, sei que não sente nada por mim, muito menos amizade.
- Liz... - falou, vindo em minha direção. Afastei-me.
- Você disse o que queria agora vá embora. Volte para casa e encontre a sua esposa perfeita juntamente com sua filha.
- Não posso e se você realmente se importasse comigo, pelo menos saberia, nem que fosse pelos outros: não tenho mais minha esposa perfeita.
- Ah, não me diga!
Ele me olhou furioso e abriu a porta com força.
- Ela está morta – disse e saiu.
Fiquei atônita.
O que foi que eu fiz???

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Capítulo 15



Elizabeth Mansen, você me daria à extraordinária honra de ser a minha esposa?
Deixei que as lágrimas rolassem quando o encarei.
- Não... Sinto muito, mas não posso...

- Ele te pediu em casamento e você o recusou – minha mãe me olhou, os olhos tristes e cheios de compaixão que eu não merecia.
Balancei a cabeça, tentando voltar ao presente e deixar mais uma vez aquelas lembranças.
- Eu não podia mãe. Deus sabe o quanto eu tentei continuar com aquele relacionamento, mas não deu. Edgard é um cara bom e merecia alguém melhor do que eu, alguém que correspondesse às expectativas dele.
- E o que você fez Liz? Porque não voltou para casa?
Dei um sorriso amargo.
- Edgard e Marcelo eram próximos e obviamente o nosso rompimento afetou todo mundo. Então fiz algo que sempre sonhei: arrumei as minhas malas e fui para Paris a estudos. Comprei um apartamento lá e dediquei os meus dias aos museus. Consegui um emprego temporário no Louvre.
“Liz... você não precisa ir embora... finalmente sinto que minha filha está em casa.”
Uma fala de Marcelo me atingiu. Logo a afastei. Com o tempo tornei-me profissional em afastar lembranças que machucavam.
- Bem, pelo menos isso foi algo bom. Desde pequena você dizia que iria morar na França.
- É... Pois é.
O silêncio voltou. Pela primeira vez durante todo o tempo da nossa conversa, notei que minha mãe tinha fios grisalhos e muitas marcas de expressão. Ali estavam às provas de como o tempo passou.
- Creio que nada justifica as suas atitudes: Ir embora por estar apaixonada por um amigo, o que não há nada de anormal, e ficar sete anos longe de casa. Sabe o quanto eu senti a sua falta durante todos esses anos? O quanto fiquei preocupada quando não recebia noticias suas? Não houve um dia desde a sua partida que não esperei que a qualquer momento você tocasse a campainha e voltasse para mim, para os seus amigos. – soltou um suspiro cansado – Não sabe o quanto foi difícil chegar em casa e não te ver, limpar o seu quarto sabendo que você não entraria lá, nos Natais, aniversários e feriados não estaria contigo. Até das farras com Ian e Daniele eu senti falta!
- Desculpe... -balbuciei, segurando o choro. Eu não era mais uma criancinha que lágrimas bastavam para se ter o perdão.
- Ai Liz... - se aproximou e me envolvendo em seus braços – O que foi que você fez com a sua vida hein?
- Não sei mãe. Todos os dias me questiono isso, o que teria acontecido se eu houvesse ficado. Acredite, se eu pudesse voltar no tempo ficaria aqui, com você – a apertei com força, tentando anular a distancia que o tempo deixou entre nós. – Sei que agi como uma criança. Mas a parte boa é que realizei os meus sonhos profissionais e Marcelo e eu nos aproximamos.
Ouvi o riso dela. Ela me afastou, sorrindo em meio às lágrimas grossas.
- Como aquele cafajeste está?
- Depois que Caroline o deixou ele se transformou no Don Juan – rimos – Ele está bem e fico feliz de estarmos próximos. Ele foi muito bom pra mim durante todo esse tempo.
- Fico feliz Liz, realmente feliz – me abraçou mais uma vez, com força suficiente para quebrar minhas costelas – Durante esse tempo eu li reportagens sobre suas exposições. Que orgulho ter uma filha artista. Fiz questão de tirar cópias das reportagens e mandar para amigos a parentes. Que bom que está em casa.
Sorri emocionada. Ela ainda estava magoada, mas eu não podia culpa-la. De alguma maneira eu ia compensar todo o tempo perdido.
Afastamo-nos e ela foi em direção ao fogão.
- Que tal um bolo de chocolate?
- Acho uma ótima ideia mãe. Faz tempo que sonhos com os seus bolos.
Ela riu e começou a separar os ingredientes. Levantei da cadeira e comecei a vagar pelos cômodos. Fui para a sala e respirei fundo o cheiro de lavanda. Fui para a estante e observei foto a foto: eu ainda bebê, minha mãe grávida, a festa de Natal, meus amigo e eu. Os enfeites continuavam no mesmo lugar. Na verdade parecia que a sala havia parado no tempo, nada havia mudado.
Deixei o porta-retrato no lugar quando a campainha tocou
- Atendeu para mim Liz! – minha mãe gritou do cômodo.
Sorri e fui em direção a porta. Ao abrir olhei para os lados e só quando baixei meus olhos vi uma linda menininha me encarando.
- Quem é você – ela perguntou, os olhinhos verdes em completa confusão.
Não fazia ideia de quem era. Talvez fosse filha de algum vizinho. Agachei-me até ficar no mesmo nível que ela.
- Oi, eu sou Liz – falei – E você, que é?
- Eu sou a Helena – respondeu. Que menina linda! Os cabelos eram ruivos em delicados cachinhos que emolduravam um rostinho branco como o deu uma boneca. Ela sorriu, mostrando os dentinhos de leite e a falta de dois deles bem na frente.
- Ei, cadê os seus dentinhos? Tem uma janela ai - brinquei e ela riu.
- Eles estavam moles, então o papai puxou – mostrou com um dedinho gordo a abertura - E eu nem chorei.
- É isso ai garota – parabenizei, ficando de pé.
- Cadê a tia Marta?
- Tá na cozinha flor – respondi. Ela deveria vir com frequência, uma vez que quando respondi ela entrou e foi encontra-la – Tiaaaaaa!!! – ouvi o grito dela e depois o da minha mãe.
- Helena! Já falei para me esperar.
Ouvi a voz e estaquei.
Olhei para o homem que saía do Volvo preto e subia as escadinhas com uma sacola de bebê e uma enorme boneca nos braços. Ele não olhava para cima, apenas no caminho que percorria  para não tropeçar. Senti meu coração descompassado quando pude ver de perto o sorriso dele. O sorriso que mais amava no Mundo.
Foi então que ele olhou para cima, olhou para mim.
O sorriso desapareceu quando ficamos frente a frente, nos encarando.
- Liz? – falou receoso.
Forcei um sorriso.
- Como vai Ian?



Comentário da Autora: ahhhhh muleki, e agora? Como vai ser esse reecontro?

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Capítulo 14, parte II





Você não vai acreditar, Ian pediu Marina em casamento ontem à noite, na casa dos pais dela e já marcaram a data! Vai ser no dia do seu aniversário!!!
- Está tudo bem Elizabeth?
Fechei a tela com força e demorei um segundo para notar que Edgar estava falando comigo.
Forcei um sorriso.
- Tudo, por quê?
- Você está pálida e suas mãos estão trêmulas.
Olhei para minhas mãos que tremiam levemente. Droga de reações indesejadas.
- Acho que a minha pressão baixou – menti.
Ele me olhou com as sobrancelhas levantadas e estendeu a sua mão a mim. Confusa a peguei, quase soltando um gritinho boiola quando ele me puxou com força para ficar em pé.
- Vamos dar uma volta – declarou, já me puxando. Todos nos observavam, e derrotada, deixei que me levasse. seria inútil fazer uma cena.
Foi a partir daquele momento que Edgard e eu ficamos mais próximos. Ele me ligava todos os dias para saber como eu estava e aos poucos fomos saindo e passando um tempo juntos. Ele era uma boa companhia, eu tinha que admitir. Gostava de passar um tempo com ele, gostava da risada rouca, dos olhos gentis e bem humorados e das conversas longas e leves. Ele era lindo e quando saíamos a algum lugar, podia sentir o olhar de inveja das mulheres nas minhas costas.
Certa noite fomos ao cinema assistir o filme Lua Nova. Sim, eu sei que é só mais uma modinha de filmes, com vampirinhos que brilham no Sol e Lobisomens sem um pelo no corpo. Mas assistindo, mesmo sabendo que era puro masoquismo, eu lembrava a época em que li os livros que deram origem aos filmes.
Com os braços ocupados com sacos de pipoca, chocolates e refrigerantes, entramos na sala pouco iluminada e quase deserta. Quando sentamos, senti certa tensão no ar. Assistimos em silencio, hora ou outra fazendo comentários monótonos das cenas.
Eu sabia que ele me olhava o tempo todo e eu agradecia mentalmente pela sala ser escura e ele não notar o meu rubor.
Qual é, eu não era uma menininha boba que não sabia o que estava acontecendo ou quais eram as intenções dele. Éramos adultos e ele estava interessado em mim... E droga, ele era lindo demais e estava olhando para mim.
- Você está muito quieta Liz – ele disse enquanto dirigia em direção a minha casa. A Mercedes roncava suavemente aos 100 km/h.
- Só estou cansada – respondi, tentando não olhar pra ele.
- Acho que precisamos conversar.
Apenas suspirei, temendo a conversa.
Edgard estacionou na frente da minha casa e em um segundo já abria a porta para mim. Entramos em silencio na mansão vazia e estranhamente calma
- Acho que Marcelo prolongou a viajem.
- Isso é bom – olhei para ele. – Vou acender a lareira, está frio. Que tal bebermos um vinho?
- Pode ser...
Vinha + lareira + cara lindo na sua sala + casa para nós= ferrou.
Atrapalhada, peguei uma garrafa de vinho da adega e uma taça. Não iria beber, então peguei um copo de leite gelado. Edgard riu quando ofereci a bebida a ele e eu tomei o leite. Ele sentou no tapete felpudo do chão, em frente as chamas. Fiquei em pé, apenas observando ele sorver um pequeno gole da sua bebida e depois deixando a taça de lado.
- Sente comigo – pediu, estendendo uma mão. – Não vou fazer nada, prometo.
Sentei ao lado dele, o coração ameaçando sair pela garganta quando o vi arregaçar a manga da camisa e revelando uma pele bronzeada e os músculos do braço.
Nossa senhora da definição musculosa... Ajuda-me!
- Você disse que queria conversar – relembrei, quando o senti cada vez mais próximo. Nos seis meses que o conhecia, nunca o vi daquele jeito: relaxado e com sorriso malicioso nos lábios.
- Sim, eu disse – ele segurou meu rosto entre as mãos, virando-o para encará-lo – você é linda Liz... -sussurrou, depositando um beijo casto na minha testa – e quero que saiba que não tem nada de amigável no que eu quero com você. Não me basta o titulo de amigo.
Vou ter um AVC...
- Estou apaixonado por você Liz e eu a quero. Descobri que não quero ser apenas o seu amigo no momento em que você ficou toda lambuzada de sorvete no nosso passeio no parque.
Ele tinha que lembrar que o sorvete me engoliu, não o contrário.
- O que você sente por mim? –ele interrogou, sério.
Pela pergunta direta eu não esperava. Encarei os olhos castanhos e profundos, achando que a qualquer momento eu iria desmaiar... Claro, só se ele me carregasse escada à cima em seus braços auhsuahsauhs.
Eu não sabia o que sentia por ele.
Edgard tornou-se alguém muito próximo, alguém que eu precisava da companhia, que eu apreciava as conversas, as risadas, o modo como me encarava. Desde que eu havia chegado, em todos os cinco anos ali, ele foi o primeiro que não me julgou, que não esteve nem ai para as minhas reservas e descaso com relacionamentos. Ele forçara a barra para entrar na minha vida e eu era grata por isso, pois sabia que eu não deixaria passivamente. Marcelo gostava dele... Todo mundo gostava dele e eu sentia ciúmes quando as garotas o encaravam com desejo.
Ele era lindo, inteligente, responsável e estava apaixonado por mim... Qual  o problema se eu tentar ter algo a mais do que uma amizade com ele?
Naquela manhã eu havia decidido desatar os laços com o passado quando o convite para o casamento de Ian chegou. Estava exausta de negar o que eu sentia por ele, cansada de me lamentar e me privar de tudo por alguém que não se lembrava de mim e não fazia ideia do que eu sentia.
Eu queria ser livre e ali estava uma excelente oportunidade.
Decidi ser sincera.
- Não sei o que sinto Ed... mas é algo bom, disso eu tenho certeza.
Ele sorriu. Um sorriso capaz de derreter o Iceberg do Titanic.
- Ótimo, então vamos descobrir.
- Como? – brinquei, sorrindo largamente.
- Assim – sussurrou, um segundo antes de sua boa assaltar a minha.
No inicio foi só um roçar de lábios. Não era um beijo afoito de novelas.
Era um teste para saber qual era a minha reação. Fiquei imóvel por um momento, apenas sentindo sensações invadirem o meu corpo com o beijo suave e atordoante. Então as minhas mãos tiveram vida própria e mergulharam nos cabelos sedosos, meus lábios urgentes abrindo-se para ele.
Ouvi um suspiro de contentamento e logo o beijo tornou-se completo. Fui puxada de encontro ao peito dele com força, seus lábios exigentes sobre os meus. Eu não conseguia pensar, apenas corresponder com desespero as caricias dele.
Não sei como aconteceu, mas fui girada em seus braços e depois senti a maciez no tapete nas minhas costas, o corpo de Edgar moldando-se ao meu. Os beijos tornaram-se profundos, os toques intensos e só quando nos faltou o ar é que nos separamos. Ele espalhou beijinhos por todo o meu rosto, sem desviar o olhar do meu.
Quer saber? Dane-se!
E com isso o puxei para mim e recomeçamos tudo. Protestei quando ele deixou os meus lábios e riu.
- Acho melhor pararmos – ele falou, se afastando. – Mas acho que por hoje isso já respondeu as minhas perguntas.
- Bobo – brinquei feliz.
Ficamos mais algum tempo conversando e trocando alguns beijos. Quando ele foi embora, um vazio tomou conta de mim. Eu sabia que não era saudade, era apenas o medo de voltar a ser sozinha. Peguei o convite que continuava em cima da escrivaninha desde aquela manha e o jóquei dentro de uma gaveta.
Foco, pensei.
Assim transcorreu o tempo em uma velocidade absurda. Começamos a sair mais e para a alegria de Marcelo, anunciamos o nosso namoro. Naquele meio tempo, comecei a dar aulas de arte na faculdade e a fazer o meu mestrado. Minha mãe ficou feliz com as noticias e indignada com o fato de mais uma vez eu não passar o natal com ela.
- Mãe, por favor, chega de drama – falei ao telefone.
- Em cinco anos você não passou um feriado comigo e me visitou apenas uma vez, por duas horas!
- Vamos fazer o seguinte: você passa o Natal aqui e no Ano Novo viajamos juntas, que tal? – na minha cabeça a ideia era perfeita.
Olhei para o relógio na parede. Já estava atrasada a janta.
- Você esqueceu? O casamento do Ian é no dia 24... Não dá tempo de eu ir ao casamento e depois sair correndo e indo para ai.
Olhei para o telefone como se ele houvesse me mordido. Ian ia se casar semana que vem.
- Liz... Liz?! Filha, tá meu ouvindo?
- OI mãe – falei desesperada para desligar – desculpa, é que estou muito atrasada para preparar o jantar, Edgard deve estar vindo.
- Tá – ouvi o suspiro dela – Te ligo mais tarde, e falando em Edgard...quando vou conhece-lo?
- Em breve – falei impaciente – tenho que desligar, eu te amo.
- Eu também te amo.
Fiquei mais um tempo, parada,  fitando o telefone. Já eram quase oito da noite. Edgard ia chegar a qualquer momento assim como Marcelo, ambos esperando um jantar que pelo visto não ia sair.
Dane-se.
Subi as escadas em direção ao meu quarto e bati a porta com força para fechá-la. Joguei-me na cama, a dor e a angustia me consumiam por dentro. A sensação era de estar sem ar em pleno mergulho, meus pulmões doíam. O choro começou baixinho e eu queria me chutar quando ele se tornou um soluço descontrolado.
Desvairada, levantei em um pulo e abri meu armário, retirando do fundo uma caixininha de madeira coberta pelo pó. Joguei tudo o que tinha em cima da cama e com dedos trêmulos segurei uma foto e um pingente de prata. A foto foi tirada no meu aniversário de 17 anos, em meio a risadas e gritos. Eu estava de vestido como uma menina deve usar segundo a minha mãe, mas não abdiquei do All-Star. Ian estava lindo, de calça escura e camisa com mangas arregaçadas até o cotovelo. Os cabelos como sempre estavam desalinhados e o sorriso largo e amado abriu cortes em meu peito só com a lembrança. Sorriamos um para o outro.
Depois, dediquei minha atenção ao pingente que segurava com força na palma da mão. Presente de aniversario.
“ Eu amo você pirralha, nossa amizade é eterna!”
Essa frase estava gravada no verso. Passei a unha sobre os contornos elegantes da gravação e o choro recomeçou.
Que diabos eu fiz???
Havia deixado o homem que amava e agora chorava por ele casar com outra. Eu me considerava um adolescente ou criança mimada quando fui morar com o Marcelo, isso servia de justificativa. A garota que se apaixonada pelo melhor amigo e decide partir pelo bem de todos. Mas nesse caso, o garoto ama outra e o tempo por mais que passe, não vai faze-los se reencontrarem em um lindo fim de tarde e declararem-se. Não vai apagar o passado, as burradas e mágoas que ali continham.
Minha mente podia ser desmiolada, mas os meus sentimentos eram muito maduros.
- Liz?
Olhei para Marcelo, que me encarava em profunda confusão.
Pela primeira vez em toda a minha vida eu precisava do apoio dele como pai, como amigo e pareceu que ele entendeu isso, pois com nenhuma pergunta se aproximou e me envolveu nos seus braços, deixando que eu chorasse ali. Ele afagou os meus cabelos e dizia frases do tipo “vai ficar tudo bem, eu estou aqui”.
Eu sabia que não ia ficar tudo bem, nunca mais. Deixei ser embalada até pegar no sono pela exaustidão.
Quando o dia 24 chegou, véspera de Natal, não fui na ceia com meu namorado e nem decorei a casa e comprei presentes como costumava fazer. Convenci Marcelo de ir na casa de Billy aquela noite e aleguei a Edgard que eu estava com muita dor de cabeça e só queria descançar. Senti-me muito mal quando ele pediu para ficar comigo e eu neguei. Para aliviar, prometi ir na casa dele na manhã seguinte, bem cedo.
Quando se aproximava das 7 da noite, tomei um banho demorado, coloquei o vestido vermelho que havia comprado para a data especial e sentei na frente da lareira, minhas únicas companhias eram o tic-tac do relógio e o barulho das chamas.
O “casamento era às oito horas e quando chegou as oito e meia eu sabia que o ‘eu aceito” já havia sido dito. Nunca frequentei casamentos, mas sabia que as cerimonias duravam em média meia hora. Com isso, às nove horas, eu sabia que ele estava casado e milhares de vezes mais distantes com a união.
Beberiquei o vinho que havia me servido e fiz um brinde.
“Seja feliz Ian”
E o brinde resultou no maior porre da minha vida.
Na manhã seguinte, com a cabeça estourando de dor, fui no apartamento de Edgard.
- Feliz Natal – ele disse, me puxando para dentro do local com um abraço apertado.
- Feliz Natal – respondi, forçando um sorriso. Estendi a caixinha que havia trazido comigo – Trouxe o seu presente.
A expressão de Edgard era linda demais, típica de um menininho na manhã de Natal. Um sorriso largou surgiu ao ver o relógio que eu havia comprado.
- Obrigado – sussurrou, me puxando para um beijo longo.
Ele também me deu presentes: um lindo vestido azul-marinho de festa e um maravilhoso estojo de joias.
Agradeci os presentes e depois almoçamos com tranquilidade.
- Amor, o que foi? Você está...distante.
Olhei para Edgard, sentado no sofá.
O homem, que mesmo sendo uma loucura continuo a amar, vai ser casar hoje, pensei.
Eu só queria esquecer!
- Não foi nada – falei e num impulso insano, subi no colo dele e o beijei.
Edgard pareceu confuso por um momento, mas logo retribui na mesma intensidade. Quando o beijava esquecia tudo, mas daquela vez não estava acontecendo isso. Beijamo-nos e quando dei por mim, estávamos deitados no enorme sofá, suas mãos percorriam os meus contornos. Namorávamos há quase um ano e o tema sexo não havia sido a pauta de nenhuma  conversa. Eu sabia que ele esperava por isso, mas eu não estava preparada. Quando senti as mãos dele por dentro da minha blusa me afastei.
- Desculpe – murmurei, apoiando a minha testa no peito dele – Eu... Eu ainda não estou preparada para isso, eu..
- Shhhh – falou, beijando meus cabelos – Não tenho pressa Liz. Eu a desejo, mas vou esperar o tempo que precisar... Eu amo você.
Fiquei imóvel. Ele... Ele me AMA????
- O que...? – sussurrei.
- Eu amo você Elizabeth. Não havia planejado as coisas assim, mas acho que essa é a oportunidade perfeita.
Atônita, o vi se levantar e se ajoelhar na minha frente, seus olhos não deixando de fitar os meus. Uma caixinha foi aberta, revelando uma linda aliança adornada de diamantes. Meus olhos deviam estar maiores que os de peixe.
- Liz – começou, pegando a minha mão – Eu sei que é repentino.  Talvez você considere cedo, mas eu tenho certeza do que eu quero: Quero você. Quero uma vida a dois e quem sabe futuramente três, quatro, cinco – sorriu – Quero que seja minha esposa, quero filhos seus e quero dormir e acordar com você, só você. Eu a amo e Deus é testemunha do quando eu desejo todas essas coisas. Eu não sou o cara perfeito para você, talvez nem o melhor... Mas ninguém a amará tanto quanto eu. Eu disse que posso esperar porque teremos todo o tempo do Mundo para nos amar e se depender de mim, muitas e muitas vezes por dia – brincou minhas lágrimas agora embaçavam tudo. Se eram de alegria ou medo eu não saberia dizer  – Elizabeth Hansen, você me daria a extraordinária honra de ser a minha esposa?






observação: bem, começaram as cenas...calientes UHSUAHSUAHSUAHSA.

Espero que tenha gostado e vou tentar postar o próximo capítulo o mais rápido o possível, abraços!!!