segunda-feira, 27 de agosto de 2012


Capítulo 10





- Jack, há um bote - a ruiva Rose disse, puxando a mão congelada do idiota que perdeu a vida para salva-la - Jack?
Enfiei mais um punhado de pipoca doce na boca, mastigando lentamente, entediada. Depois virei o copo de refrigerante de uma só vez e mastiguei mais pipoca. Revirei os olhos com os suspiros entrecortados ao meu lado. Olho para Daniele, que tinha a cara de sapo de banhado devido ao choro.
- Já assisti Titanic 15 vezes e choro em todas - balbuciou levando a mão ao balde de pipoca para afogar a tristeza.
- Esse filme é um lixo - respondi agora entretida com a segunda barra de chocolate naquele dia. Diabete, ai vamos nós!
Ela se virou pra mim de olhos arregalados.
- Você só pode estar brincando, esse é o melhor filme do Mundo!
A encarei também com a expressão de "ah, não me diga!”.
- Pense comigo: o Jack conhece a Rose e se interessa por ela, ok. Ele é um homem, e é natural que ele tenha uma quedinha por uma ruiva bonita que parece infeliz com o noivo. Desde o começo ela só o coloca em confusões. Em dois dias eles dizem o "eu te amo”... É impossível surgir o amor em apenas DOIS DIAS. Eles estavam atraídos um pelo outro, ele pela beleza dela e ela pelo fato de Jack representar desafios, uma vida desconhecida, ou seja, vida loka. E no final, quando a droga do barco que não conseguiu desviar do iceberg  afunda, o tapado deixa ela ficar na porta-salva-vida e permanece na agua, sendo que ela estava agasalhada e havia espaço suficiente para os dois. 
Daniele só me ouviu, com a expressão de "não acredito que ela disse isso"
- É o melhor filme do Mundo - repetiu, virando-se para a TV e ignorando o meu comentário.
"Falar com você sempre me deixa mais leve, como se todas as respostas e soluções do Mundo estivessem em você.". Quase tive um ataque ao ouvir a voz clara e aveludada de Ian na minha mente. Ele não era o Edward Cullen, mas já quebrava um galho. Franzi a testa, irritada com o meu cérebro estar entrando em pane. 
A conversa daquela manhã ainda não saia da minha mente. Tudo o que eu olhava lembrava ele, portanto não voltei mais ao meu quarto.
- Fiquei sabendo que Ian está saindo com a Marina.
Pisquei várias vezes, tentando dissipar a névoa que se formou nos meus pensamentos. Olhei para Daniele. Só então percebi que o filme já havia acabado.
- Acordaaaa, hellooooouu - falou, estalando os dedos na minha frente - Você tá bem esquisita hoje. Enfim... Eu disse que fiquei sabendo que o Ian está saindo com a Marina.
- Eu sei disso, ele veio as sete da matina me pedir o que ele deveria dizer e fazer hoje à noite, - murmurei, dando de ombros - eles vão sair ou algo do tipo...
Daniele começou a dar gritinhos de "ah meu Deus!!!", só ajudando no meu estado de espirito emo.
- Não acredito nissooooo!!! - gritou, rindo e esperando que eu dissesse algo - Cara, Ian? O cara que não gosta de ninguém? O cara que diz que jamais iria ter um compromisso sério?
- O cara mais panaca do Mundo? O filho da mãe que só pensa em si mesmo e não olha para o lado? O idiota que acha que está apaixonado? - continuei imitando a voz dela - Sim, esse mesmo.
- Uau, quem diria...Marina deve ter algum poder escondido ou foi macumba das bravas! - riu, sozinha, claro - É uma pena, até eu tenho uma quedinha por ele...quedinha não, um verdadeiro tombo, mas é a vida né?...quem sabe o Eduardo finalmente olhe para mim?
- É, quem sabe...- rosnei, levantando para atender a campainha que havia tocado.
Abri a porta e fiquei boquiaberta ao dar de cara com o tema da nossa conversa.
- Ian? - balbuciei, enquanto o observava entrar na minha casa e se jogar no sofá ao lado de Daniele.
- Oi Dani - falou, dando um beijinho nela.
- Oi Ian!!! - falou a anã com um gritinho histérico - fiquei sabendo da Marina, isso é tãooooo romântico!
Ian riu, passando a mão pelos cabelos negros e macios.
Fechei a porta de casa e andei em direção a eles, minhas pernas formigando durante a trajetória... Foi então que eu o olhei.
REALMENTE OLHEI.
Ele estava de calças jeans escuras, all-star preto, uma camisa na cor do vinho e os olhos verdes mais verdes que já vi.
Se eu pudesse compara-lo a alguém, diria que era uma cópia fiel do ator de Smallville.
- Vim aqui porque lá em casa o tempo não passa - brincou. - E também quero pedir a opinião de vocês sobre o que comprei para a Marina.
Ian estendeu os presentes para darmos uma olhada. Daniele quase saiu saltitando pela sala, abraçando o urso caramelo que tinha quase o tamanho dela. Limitei-me a olhar enorme buque de rosas vermelhas com um dar de ombros, afinal eu não gostava de flores mesmo e não dava a mínima ao fato de nunca ter recebido algo do gênero.
- O que vocês acham? Será que ela vai gostar? - perguntou com os enormes olhinhos do gato de botas para nós.
- É claro que sim!!! - falou Danieli jogando-se no sofá ao lado de Ian - Qualquer garota iria amar receber isso, é tipo um sonho de adolescente sabe? Rosas, ursinho, jantar romântico, beijos ao luar...
- Bafo de comida, falta de dinheiro por sermos estudantes, flores que vão murchar... - completei olhando para o teto e enumerando nos dedos - Ai! - gritei quando levei uma almofadada na cara.
- Para de estragar as coisas Liz, deixa de ser mal-humorada - virou-se para Ian, que me encarava de testa franzida - Ela vai amar.
Ian olhou para Daniele e deu um sorriso de derreter geleiras.
- E você Liz, o que acha?
Eu acho que ela não merece nada disso. Quer agradar? Compre velas de macumba e dê uma galinha viva a ela.
Surpreendi-me com a fúria que me dominou por um momento. O que estava acontecendo comigo? Marina era uma garota legal, merecia o meu Ian.
Meu?
- Olha quem chegou! 
Balancei a cabeça e vi Diego entrando na sala. Eu nem havia escutado a campainha tocar.
Ensaiei o melhor sorriso e andei em direção ao meu... É... Ao Diego.
Ele me deu um abraço de urso de quebrar as costelas e logo em seguida me beijou, sem ligar ao fato de termos plateia. Fiquei imóvel. Havíamos ficado uns dias afastados devido a viagem dele para a praia.
- Senti sua falta - murmurou em meus cabelos. Ao me soltar, sorriu para os espectadores - Oi galera.
Virei-me em seus braços corada, e consegui ter um deslumbre de uma troca de olhares entre Ian e Diego.
- Bem...já vou indo, vou buscar a Marina na casa dela e depois vamos no cinema.
- Já? – perguntei dando um passo em direção a ele, aflita – Ainda é cedo, não são nem sete horas...
- Eu sei, mas eu to a fim de busca-la mais cedo, assim teremos mais tempo – deu uma risadinha. – tchau Dani – falou se levantando e dando um abraço afetuoso nela.
Ian me olhou e seu olhar deslizou de mim para Diego. Ele hesitou por um momento, mas logo formou um sorriso leve no rosto bonito.
- Até mais Liz – falou, sem se aproximar. Pegou as flores e o urso estupido – Cuida bem dela Diego.
- Sempre.
- Quer saber, acho que eu também vou ir, não estou a fim de ficar de vela – riu se referindo a mim e Diego – Você pode me dar uma carona Ian?-
- Claro.
- Você pode ficar – ignorei o aperto na minha cintura, e a olhei, desesperada – Podemos pedir pizza e assistir outro filme...
- Qual é Liz? Seu namorado acabou de chegar de viagem, vocês não tem que matar a saudades? – falou,
- Concordo com você – Diego disse, me abraçando de lado.
- Ok gente, vamos indo Dani, não quero me atrasar – Ian a puxou e acenou enquanto saia pela porta – Até mais, juízo!
E com isso a porta foi fechada com força ao saírem.
A traíra da minha amiga me deixou.
Ian iria encontrar a outra.
E eu estava mais perdida do que cego em tiroteio em relação a Diego.












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