terça-feira, 28 de agosto de 2012

Capítulo 11






- Bem acho que somos nós dois agora – falei, limpando o suor das minhas mãos no jeans – Minha mãe saiu então eu preparo o jantar, a não ser que você queira jantar fora ou quem sabe pedir uma pizza, de calabresa, porque sei que é a sua favorita e eu não me importamos se você escolher o sabor...
- Venha aqui Liz. – Diego me chamou com uma voz baixa e suave, de arrepiar os cabelos.
Virei em direção a voz, meus olhos fixados na figura imponente sentado na poltrona reclinável.
- Vem – repetiu com a minha hesitação, estendendo a mão.
“Não vá Liz, assim como Eva atendeu o pedido da serpente e se deu mal, o mesmo pode acontecer a você...” Ouvi a risada baixa de Diego e me aproximei.
- Hey gatinha, até parece que está com medo de mim.
Forcei um sorriso e mandei minhas pernas me levarem até ele. Quando segurei em sua mão, fui puxada em direção ao colo dele com força e logo os seus lábios estavam sobre os meus. Demorei algum tempo até corresponder, mas quando o fiz ele aprofundou o contato, me apertando até não restar uma costela intacta. Me aconcheguei mais a ele, passando os braços pelo seu pescoço, tentando comparar o que eu sentia agora e o que eu imaginava que sentia. Não havia toda aquela intensidade que eu definia: não havia nervosismo, pensamentos irracionais, sinos tocando e nem o coro de anjos dizendo “amém”. Só havia eu, ele e um contato entre bocas.
Suas mãos subiram pela minha cintura e puxaram a barra da minha camiseta, dando passagem a mãos ansiosas demais. Dei um jeito de tirar as mãos dele e logo terminei com o beijo. Ao me afastar encarei o rosto de modelo, encarando o sorriso perfeito mas que nem se compara ao de Ian, que tinha a habilidade de gerar energia para uma cidade grande.
- Eu senti muito a sua falta – sussurrou, espalhando beijos pelo meu rosto – Eu só pensava em voltar para casa e ver esse rosto lindo,sentir seus lábios nos meus e...
- E ligar para a pizzaria para enchermos a pança! – cortei, me dando um coice mentalmente ao sair do colo dele.
Ele me olhou como se estivesse tirando minhas medidas para uma camisa de força, mas depois riu, se levantando e me puxando pela cintura.
- Ah Liz...você é única! – retribui o abraço sem jeito. Meu Deus qual era o meu problema?
Diego era lindo, um Deus Grego, gentil, romântico, inteligente e gosta de mim, mesmo sabendo que praticamente todas as garotas do colégio e até mesmo a tia do lanche caem aos seus pés. Ele me afastou e depositou um beijo suave na minha testa.
- Vamos pedir a pizza? – murmurei, forçando um sorriso.
- Que tal jantarmos fora? Faz tempo que não saímos.
Considerei minhas alternativas: ficar em casa com um cara tentando me seduzir ou sair em lugar que tenha muitas testemunhas.
- Claro! – falei, animada – Você espera eu tomar um banho e me arrumar?
- Quer ajuda? – brincou, me deixando vermelha que um tomate.
- Não...deixa pra próxima – falei e sai correndo escada a cima em direção ao banheiro.

- Sério, não aguento mais...-murmurei tocando a minha barriga. Já não conseguiu ver o cinto da calça e minha única vontade era abrir os botões do jeans e deixar minha barriga descançar.
- Tem certeza? A pizza de morango está uma delicia – brincou Diego, pegando uma fatia e levando a boca lentamente, rindo.
Ri também, incomodada com o volume da minha barriga e também pelo fato de que talvez eu tivesse entalado na cadeira.
Estávamos na Pizzaria Nono Antônio, um lugar boêmio, com iluminação baixa, toalhas xadrez nas mesinhas brancas e musica suave ao fundo. Tudo era extremamente limpo e organizado. Havia uma lareira com poltronas a cercando, com mantas e almofadas coloridas por cima. As mesas tinham candelabros, os pratos eram de porcelana e a intimidade do lugar levava casais apaixonados até ali. A pizza era ótima, mas depois da 14ª fatia o estomago já começava a édir socorro.
- Podíamos ir ao cinema depois, está em cartaz o filme “A era do Gelo 4” – sugeriu, sabendo que eu amava filmes de animação – E então você podia ir na minha casa, meus pais estão viajando e ....
Desliguei da pizza, do lugar e de Diego.
Ao virar para o lado e observar o movimento, avistei Ian e Marina sentados em um canto aconchegante do restaurante, com os rostos muito próximos. Ela tinha o urso no colo e as rosas estavam em cima da mesa. Ela estava linda, eu tinha que admitir, naquele vestidinho rosa esvoaçante, sapatilhas douradas e os cabelos ruivos naturais caindo em suaves ondas pelas costas. A postura impecável dela somada a cinturinha fina fizeram com que eu olhasse para a minha pança recheada de pizza.
Ela riu de algo que Ian disse e ele a beijou no rosto, depois pegou as suas mãos.
Nunca tinha visto Ian daquele jeito: meio abobado, com um sorriso enorme, extremamente atencioso e deslumbrado por alguém.
Ele estava feliz.
- Liz?

Balancei a cabeça em uma tentativa frustrada de amenizar o enorme buraco que se abriu em meu peito.
- Liz? Você está bem? – Diego pegou minha mão e a apertou – Hey gatinha, você está tremendo...
- Me leva pra casa? – pedi, desesperada por sair dali – não estou me sentindo bem.
- Claro – Diego me olhou e franziu a testa. Depois, chamou o garçom para pagar a conta.
Levantei da cadeira e fui amparada por Diego, que me guiou até o carro. Sentei no banco de couro e agradeci quando o aquecedor foi ligado.
- O que aconteceu Liz, você parecia tão bem... - murmurou colocando o sinto e dando a partida
- Acho que foi a gula mesmo – brinquei, batendo os dentes de frio – Comi demais, só preciso descansar.
Ele assentiu, não muito convencido e acelerou.
Observei as arvores passando velozmente por nós, as ruas silenciosas e com pouco movimento. Um casal andava de mãos dadas, rindo. Desviei o olhar e me concentrei no painel do carro.
Eu estava apaixonada pelo meu melhor amigo, ou melhor, só agora percebi que eu estava apaixonada por Ian durante todos esses anos.
Então uma ideia que era apavorante durante toda a minha vida, mas agora parecia perfeita, iluminou a minha mente.







segunda-feira, 27 de agosto de 2012


Capítulo 10





- Jack, há um bote - a ruiva Rose disse, puxando a mão congelada do idiota que perdeu a vida para salva-la - Jack?
Enfiei mais um punhado de pipoca doce na boca, mastigando lentamente, entediada. Depois virei o copo de refrigerante de uma só vez e mastiguei mais pipoca. Revirei os olhos com os suspiros entrecortados ao meu lado. Olho para Daniele, que tinha a cara de sapo de banhado devido ao choro.
- Já assisti Titanic 15 vezes e choro em todas - balbuciou levando a mão ao balde de pipoca para afogar a tristeza.
- Esse filme é um lixo - respondi agora entretida com a segunda barra de chocolate naquele dia. Diabete, ai vamos nós!
Ela se virou pra mim de olhos arregalados.
- Você só pode estar brincando, esse é o melhor filme do Mundo!
A encarei também com a expressão de "ah, não me diga!”.
- Pense comigo: o Jack conhece a Rose e se interessa por ela, ok. Ele é um homem, e é natural que ele tenha uma quedinha por uma ruiva bonita que parece infeliz com o noivo. Desde o começo ela só o coloca em confusões. Em dois dias eles dizem o "eu te amo”... É impossível surgir o amor em apenas DOIS DIAS. Eles estavam atraídos um pelo outro, ele pela beleza dela e ela pelo fato de Jack representar desafios, uma vida desconhecida, ou seja, vida loka. E no final, quando a droga do barco que não conseguiu desviar do iceberg  afunda, o tapado deixa ela ficar na porta-salva-vida e permanece na agua, sendo que ela estava agasalhada e havia espaço suficiente para os dois. 
Daniele só me ouviu, com a expressão de "não acredito que ela disse isso"
- É o melhor filme do Mundo - repetiu, virando-se para a TV e ignorando o meu comentário.
"Falar com você sempre me deixa mais leve, como se todas as respostas e soluções do Mundo estivessem em você.". Quase tive um ataque ao ouvir a voz clara e aveludada de Ian na minha mente. Ele não era o Edward Cullen, mas já quebrava um galho. Franzi a testa, irritada com o meu cérebro estar entrando em pane. 
A conversa daquela manhã ainda não saia da minha mente. Tudo o que eu olhava lembrava ele, portanto não voltei mais ao meu quarto.
- Fiquei sabendo que Ian está saindo com a Marina.
Pisquei várias vezes, tentando dissipar a névoa que se formou nos meus pensamentos. Olhei para Daniele. Só então percebi que o filme já havia acabado.
- Acordaaaa, hellooooouu - falou, estalando os dedos na minha frente - Você tá bem esquisita hoje. Enfim... Eu disse que fiquei sabendo que o Ian está saindo com a Marina.
- Eu sei disso, ele veio as sete da matina me pedir o que ele deveria dizer e fazer hoje à noite, - murmurei, dando de ombros - eles vão sair ou algo do tipo...
Daniele começou a dar gritinhos de "ah meu Deus!!!", só ajudando no meu estado de espirito emo.
- Não acredito nissooooo!!! - gritou, rindo e esperando que eu dissesse algo - Cara, Ian? O cara que não gosta de ninguém? O cara que diz que jamais iria ter um compromisso sério?
- O cara mais panaca do Mundo? O filho da mãe que só pensa em si mesmo e não olha para o lado? O idiota que acha que está apaixonado? - continuei imitando a voz dela - Sim, esse mesmo.
- Uau, quem diria...Marina deve ter algum poder escondido ou foi macumba das bravas! - riu, sozinha, claro - É uma pena, até eu tenho uma quedinha por ele...quedinha não, um verdadeiro tombo, mas é a vida né?...quem sabe o Eduardo finalmente olhe para mim?
- É, quem sabe...- rosnei, levantando para atender a campainha que havia tocado.
Abri a porta e fiquei boquiaberta ao dar de cara com o tema da nossa conversa.
- Ian? - balbuciei, enquanto o observava entrar na minha casa e se jogar no sofá ao lado de Daniele.
- Oi Dani - falou, dando um beijinho nela.
- Oi Ian!!! - falou a anã com um gritinho histérico - fiquei sabendo da Marina, isso é tãooooo romântico!
Ian riu, passando a mão pelos cabelos negros e macios.
Fechei a porta de casa e andei em direção a eles, minhas pernas formigando durante a trajetória... Foi então que eu o olhei.
REALMENTE OLHEI.
Ele estava de calças jeans escuras, all-star preto, uma camisa na cor do vinho e os olhos verdes mais verdes que já vi.
Se eu pudesse compara-lo a alguém, diria que era uma cópia fiel do ator de Smallville.
- Vim aqui porque lá em casa o tempo não passa - brincou. - E também quero pedir a opinião de vocês sobre o que comprei para a Marina.
Ian estendeu os presentes para darmos uma olhada. Daniele quase saiu saltitando pela sala, abraçando o urso caramelo que tinha quase o tamanho dela. Limitei-me a olhar enorme buque de rosas vermelhas com um dar de ombros, afinal eu não gostava de flores mesmo e não dava a mínima ao fato de nunca ter recebido algo do gênero.
- O que vocês acham? Será que ela vai gostar? - perguntou com os enormes olhinhos do gato de botas para nós.
- É claro que sim!!! - falou Danieli jogando-se no sofá ao lado de Ian - Qualquer garota iria amar receber isso, é tipo um sonho de adolescente sabe? Rosas, ursinho, jantar romântico, beijos ao luar...
- Bafo de comida, falta de dinheiro por sermos estudantes, flores que vão murchar... - completei olhando para o teto e enumerando nos dedos - Ai! - gritei quando levei uma almofadada na cara.
- Para de estragar as coisas Liz, deixa de ser mal-humorada - virou-se para Ian, que me encarava de testa franzida - Ela vai amar.
Ian olhou para Daniele e deu um sorriso de derreter geleiras.
- E você Liz, o que acha?
Eu acho que ela não merece nada disso. Quer agradar? Compre velas de macumba e dê uma galinha viva a ela.
Surpreendi-me com a fúria que me dominou por um momento. O que estava acontecendo comigo? Marina era uma garota legal, merecia o meu Ian.
Meu?
- Olha quem chegou! 
Balancei a cabeça e vi Diego entrando na sala. Eu nem havia escutado a campainha tocar.
Ensaiei o melhor sorriso e andei em direção ao meu... É... Ao Diego.
Ele me deu um abraço de urso de quebrar as costelas e logo em seguida me beijou, sem ligar ao fato de termos plateia. Fiquei imóvel. Havíamos ficado uns dias afastados devido a viagem dele para a praia.
- Senti sua falta - murmurou em meus cabelos. Ao me soltar, sorriu para os espectadores - Oi galera.
Virei-me em seus braços corada, e consegui ter um deslumbre de uma troca de olhares entre Ian e Diego.
- Bem...já vou indo, vou buscar a Marina na casa dela e depois vamos no cinema.
- Já? – perguntei dando um passo em direção a ele, aflita – Ainda é cedo, não são nem sete horas...
- Eu sei, mas eu to a fim de busca-la mais cedo, assim teremos mais tempo – deu uma risadinha. – tchau Dani – falou se levantando e dando um abraço afetuoso nela.
Ian me olhou e seu olhar deslizou de mim para Diego. Ele hesitou por um momento, mas logo formou um sorriso leve no rosto bonito.
- Até mais Liz – falou, sem se aproximar. Pegou as flores e o urso estupido – Cuida bem dela Diego.
- Sempre.
- Quer saber, acho que eu também vou ir, não estou a fim de ficar de vela – riu se referindo a mim e Diego – Você pode me dar uma carona Ian?-
- Claro.
- Você pode ficar – ignorei o aperto na minha cintura, e a olhei, desesperada – Podemos pedir pizza e assistir outro filme...
- Qual é Liz? Seu namorado acabou de chegar de viagem, vocês não tem que matar a saudades? – falou,
- Concordo com você – Diego disse, me abraçando de lado.
- Ok gente, vamos indo Dani, não quero me atrasar – Ian a puxou e acenou enquanto saia pela porta – Até mais, juízo!
E com isso a porta foi fechada com força ao saírem.
A traíra da minha amiga me deixou.
Ian iria encontrar a outra.
E eu estava mais perdida do que cego em tiroteio em relação a Diego.












quinta-feira, 16 de agosto de 2012


Capítulo 9



O quarto estava em tons escuros o que significava que seria um dia chuvoso em pleno sábado.
Puxei o edredom e me enrolei até ficar na confortável posição fetal. Olhei para o relógio em cima do criado mudo e estreitei os olhos ao ver que eram apenas sete da manhã.
Acordei sete da manhã em pleno sábado???
Automaticamente levei a minha mão a testa, constando em seguida que eu não estava com febre.
Ok
Basta eu fechar meu olhos que logo o sono vem e então já será meio dia, pensei.
Fechei os olhos com força, mordendo o meu lábio inferior de frustração. Mudei de posição várias vezes e todas pareciam desconfortáveis.
- Merda - murmurei ao perceber que não iria dormir. Até porque uma certa cena que acontecera há dois dias não saía da minha cabeça...
Ouvi batidinhas na janela e quase saltei da cama com o susto.
Meu Deus, os ladrões trabalham cedo!
Fiquei imóvel na cama, decidindo se eu corria dali e gritava pro meu pai, se permanecia ali e dava uma de Xena ou simplesmente chamava a policia.
- Liz, você tá acordada? - sussurrou uma voz conhecida
- Ian? - murmurei, levantando receosa da cama e me aproximando lentamente da janela. Olhei para o lado para ver se havia algo que eu pudesse usar como arma. Peguei a chapinha de cima da comoda e me preparei. Puxei a cortina e dei de cara com Ian.
- Droga, você quase me matou de susto caralho - falei enquanto abria a janela sem fazer ruídos e ele entrava. Me afastei dando passagem até ficarmos frente a frente.
Ian olhou para mim de cima abaixo e deu uma risadinha
- Esse pijama com estampa de unicórnios é para me seduzir? - brincou rindo baixinho para não acordar a casa.
Olhei para mim mesma e corei.
Merda, eu estava com aquele pijama de unicórnios coloridos comprido e minhas pantufas eram de zebra. Meu cabelo devia estar um ninho de passarinhos.
- Diga logo o que quer - sibilei, com um suspiro.
- Calma gatinha...já pode abaixar a sua arma - riu quando percebi que ainda segurava a chapinha - Vamos deixar o alisamento para outro dia - falou.
- Revirei os olhos e cruzei os braços, impaciente e estranhamente nervosa por ele estar ali, no meu quarto, com eu ainda de pijama, sendo que isso já acontecera centenas de vezes.
Ele sentou na minha cama e deu um tapinha para que eu sentasse ao lado.
- Quero te contar sobre uma garota.
Legal, sete da manhã e eu teria que dar conselhos sentimentais.
- Eu acho que estou apaixonado por uma garota.
Olhei para ele e cai na risada diante da piada dele, ou pior, a expressão sincera dele.
- Por que você tá rindo? - perguntou, franzindo as sobrancelhas.
- Por um segundo você quase me pegou- dei um soquinho fraco no ombro dele - Agora vamos falar sério.
- Eu não estou brincando Elizabeth
Agora a coisa ficou séria
Ele me chamou de Elizabeth.
- Desculpa, mas acho que não estou te entendendo direiro, acho que acordar a essa hora não faz muito bem a minha mente...
- Eu disse que estou apaixonado Liz e vim aqui porque preciso dos seus conselhos furados - sorriu fraco enquanto eu achava que teria um ataque cardíaco naquele momento.


Ele está apaixonado.
Repeti isso pela milionésima vez na minha mente.
O cara que gostava de estar sozinho, que não queria uma garota em sua vida estava apaixonado.
Escutei de olhos arregalados ele relatar como conhecera Marina e o que ele sentia quando estava com ela.
- Eu fico nervoso e feliz ao mesmo tempo, e não consigo pensar em mais nada a não ser o fato de quero estar com ela - murmurou como se fosse pecado dizer em voz alta. - O que você acha?
- Eu acho que estou em um pesadelo daqueles..-murmurei olhando para o piso do quarto.
- O QUE? - ele perguntou em voz alta me tirando dos devaneios.
Merda, eu disse aquilo em voz alta???
- Nada não - respondi rapidamente, me levantando - Pelos sintomas...acho que você está gostando mesmo dela...
Ele soltou uma risadinha e levantou-se também, passando uma mão nervosa nos cabelos densos e negros.
- O que eu faço Liz? - murmurou, me segurando pelos ombros e me fitando nos olhos. Só pode que estou ainda grogue, pois fiquei tremula ao encarar os olhos verdes e intensos. - Você é a minha melhor amiga e...é mulher! Deve saber o que eu deveria fazer em uma hora dessas...
- Bem observado - falei sarcasticamente, estranhamente magoada ao constatar que ele nunca havia me olhado como uma mulher, apenas como uma amiga que já tinha visto ele tomar banho com 3 anos de idade.- Que tal você dizer tudo isso...pra ela?
Ian me olhou como se eu fosse louca, depois fez a expressão de duvida: testa franzida e sobrancelha levantada.
- Falar como me sinto em relação a ela??
- É - falei me afastando do toque dele e começando a arrumar o meu quarto por impulso. - Chame-a para sair, conversem e fale o que sente pra ela, as vezes ir pelo caminho direto é o melhor.
- Devo comprar alguma coisa pra ela? Onde eu devia leva-la? Shopping, passeio a pé, cinema, lanchonete...???
Dei um risinho sem graça ao segurar o livro que Diego havia me dado.
- Isso é contigo bonitão - falei e olhei para a capa. Orgulho e Preconceito estampava a frente em letras grande e elegantes.
- Certo - ouvi um suspiro pesado e o olhei. - Quem diria que um dia eu estaria desesperado em conquistar uma garota. - Riu e eu acompanhei com um riso forçado.
- Ela deve ser muito especial pra você, o cara mais preguiçoso que conheço, vir na minhas janela as 7 da matina.
Joguei o livro em cima e depois abri o guarda-roupa, tirando um conjunto que eu geralmente usava para lavar a calçada.
- Ela é...linda, inteligente, gosta de filmes de terror e jogos no PC. Ela tem uma coleção do Star Wars, quando eu vi o quarto dela forrado com posters do filme percebi que havia achado a futura mãe dos meus filhos.
Ele riu e uma dorzinha chata começou a azucrinar a minha cabeça.
- Mas você quer...um relacionamento sério com ela?
Segurei a respiração, estranhamente temerosa pela resposta.
E então, achei que eu estava literalmente sonambula, presa em um pesadelo com chupa-cabras.
- Sim.
Olhei para o pequeno espelho dentro do guarda-roupa e me assustei com a minha expressão desolada. Balancei a cabeça e esbocei um sorriso de orelha a orelha
- Que bom Ian! - espero que ele não tenha notado a voz aguda e desesperada - Mas você já sabe que para ela namorar com você precisará da minha benção.
Ian riu e se aproximou de mim lentamente e em um impulso senti ser erguida do chão em um abraço de urso.
- Me solta! - gritei quando ele começou a girar comigo nos braços.
- Estou tão feliz Liz! - soltei um grito quando nós dois caímos em cima da cama respirando com dificuldade. Vi que Ian ao meu lado, confortavelmente esticado em meus lençóis observava as estrelinhas coladas no teto com um sorriso torto, tão familiar quanto o meu rosto.
- Quero que dê certo, nunca quis alguém como eu a quero.
Olhei para ele, a alegria e o divertimento que a pouco havia sentido se esvair.
- E quer saber? Foi uma ótima ideia ter vindo até aqui - sussurrou, me olhando - Claro que você não disse nada que possa me ajudar, mas falar com você sempre me deixa mais leve, como se todas as respostas e soluções Mundo estivessem em você. Obrigado - ele se aproximou e depositou um beijo delicado na minha testa - Diego tem muita sorte de ter você.
Reprimi o impulso ridículo de chorar, afinal, os elogios deveriam me alegrar não deveriam?
Contudo, só senti um vazio fazendo buracos em meu peito.
- Bem...-falou pondo-se em pé - Agora vou indo, tenho que pensar no que vou fazer hoje a noite pra ela. 
- Tudo bem - respondi sem me mover, apenas acompanhando ele indo em direção a janela com os olhos. - Boa sorte e forção garotão!
- Pode deixar - falou sorrindo e saindo pela janela.
Escutei o barulho dos tênis até o silencio reinar de volta.
Olhei para o local que Ian estava deitado e me encolhi na cama, percebendo como o quarto parecia vazio sem Ian.
Ele estava apaixonado.
Ele iria pedi-la em namoro naquela noite.
E eu estava chorando baixinho e rangendo os dentes ao imaginar ele com a outra.
Foi então que  percebi algo terrível.