segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Capítulo 12




- Morar com o seu pai??? – gritou a minha mãe com os cabelos em pé, os olhos arregalados acompanhando os meus movimentos. – De onde surgiu essa ideia Elizabeth?????
Ela me chamou de Elizabeth... vish.
- Mãe – comecei pela decima vez naquele dia - já faz um tempo que eu penso em morar com o Marcelo. Toda vez que conversamos, ele me convida pra passar um tempo com ele. Acho que agora é o momento perfeito para isso.
- E porque agora? – minha mãe choramingou, sentando na minha cama. Engraçado como éramos totalmente diferentes: ela parecia uma adolescente, era extravagante, divertida e muito bonita. Muitos acham que somos irmãs. – Já se passaram 17 anos Liz... 17 anos! E você ou ele nunca tiveram o interesse de passar mais de uma semana juntos.
Pensei rapidamente em uma resposta. A ideia matutava na minha cabeça há uma semana, logo depois que Diego havia me deixado em casa naquela noite do jantar.
Marcelo e minha mãe haviam se separado quando eu tinha 3 anos. Até hoje ela não superou, principalmente por ter me criado sozinha, sem a ajuda de ninguém. Passamos dificuldades e eu me sentia culpada pelo tempo que minha mãe poderia ter aproveitado de sua juventude. Eu não sabia o que sentia por Marcelo. Conversávamos as vezes por telefone, uma vez por ano eu tinha o habito de passar alguns dias na casa de campo dele e ele vinha para passar o Natal na cidade. Não tínhamos assunto, mas ficar na companhia dele, vendo-o tocar violão ou ficar em silêncios profundos era agradável. Acho que herdei os genes paternos mesmo.
Coloquei as calças jeans e algumas camisetas novas com cuidado dentro mala esfarrapada. Já havia tomado a minha decisão.
- A faculdade de artes plástica que eu tanto quero fica perto da casa dele e você sabe que o vestibular já está chegando. Quero passar um tempo, ou quem sabe, recuperar um pouco do tempo que ficamos separados, além de ser bom conhecer um lugar novo e pessoas novas – sorri, minha mandíbula doendo com a farsa – E você pode finalmente viajar sem se preocupar se estou bem ou sozinha. Quem sabe você não encontre um gato por ai? – brinquei e ela sorriu.
- As coisas não são tão simples assim Liz – falou, segurando o porta-retrato com a foto de Ian e eu juntos. – E a escola?
- Marcelo já conversou com os diretores do colégio em que vou estudar e eles me aceitaram. Faço a transferência e termino meus estudos lá. E também, o que são mais quatro meses de aula?
Minha mãe deu um sorriso triste e do nada me abraçou com tanta força que minhas costelas gritaram. A abracei também, já sentindo falta dessas aproximações, coisa que eu não teria com Marcelo. Havia mentido para ela, mas era por uma boa causa.
- Eu te amo mãe – murmurei, sentindo o cheirinho de lavanda e biscoitos tão característicos dela.
- Eu também te amo – declarou me apertando mais um pouco – Estamos falando sobre a sua partida há uma semana e você está mesmo decidida a ir. – ela se afastou, me segurando pelos ombros – Sei que querendo ou não, você sentiu falta de ter um pai e não pude fazer nada a respeito disso. Mesmo que eu não goste da ideia, passar um tempo com ele vai ser bom para os dois, sempre desejei que vocês fossem próximos um do outro. Isso não aconteceu durante a sua infância e nem inicio da adolescência... Mas antes tarde do que nunca – sorriu – Eu amo você Liz, só quero o seu bem. Se quiser ir, não vou impedi-la, mas aqui é a sua casa e sempre será.
- Eu sei – murmurei, sentindo uma dorzinha no peito.
- Quero que me ligue todos os dias, que passe uns dias aqui em casa e caso algo aconteça, volte.
- Pode deixar – sorri, segurando o choro.
- Agora deixa eu te ajudar a arrumar suas malas ou você vai acabar perdendo o voo.
Terminamos de guardar as roupas e calçados. Só faltavam algumas fotos, joias, e objetos que eu queria levar junto. Peguei a caixa de bijus, as poucas maquiagens que eu tinha um urso que ganhei quando era bebe e meu livro favorito “O Morro dos Ventos Uivantes”. O coloquei com cuidado dentro da mala. Ele pertencera a minha avó e foi o ultimo presente que ela me deu antes de falecer. As páginas estavam amareladas e frágeis, e continha muito mais do que apenas uma história.
- Vou colocar no porta-malas – minha mãe disse, erguendo uma caixa de papelão.
- Tudo bem, eu já desço.
Quando ela saiu e fechou a porta, sentei na minha cama, observando que o quarto, exceto as roupas que faltava estava como sempre, contudo, parecia que eu não pertencia mais a aquele lugar. Os desenhos de palitinhos e mãos impressas com tinta guache sobre o papel continuavam colados na parede desde os meus seis anos. A cama tinha os ursos fofos e totalmente infantis que ganhei durante a infância. O tapete continuava com a mancha de ketchup e a escrivaninha ainda estava forrada de papeis, embalagens de doces e canetinhas coloridas espalhadas.
As paredes eram cor rosa, um quarto digno da Barbie fora li que passei dias e dias brincando, conversando, contando segredos e chorando em silencio. Deitei na cama, sentindo a macies tão conhecida e observei as estrelinhas coladas no teto. As mesmas estrelas que há alguns dias atrás Ian tinha observado com um sorriso.
Olhei para o lado, onde ele estivera e toquei a colcha, buscando por marcas invisíveis. Não conversávamos pessoalmente desde aquela tarde em que ele apareceu com rosas e um ursinho para a Marina. Não que ele não tentasse. Mas eu tentei a todo custo evita-lo.
Foi a semana que mais me dediquei aos estudos.
Depois das aulas ele me ligava pedindo onde eu estava. Eu mentia dizendo que estava com Diego ou que minha mãe havia me buscado do colégio. Tudo mentira.
Depois daquela noite da ideia genial de ir morar com meu pai, Diego e eu brigamos. Para minha surpresa ele pediu desculpas e até disse que seria melhor mesmo nos afastarmos, uma vez que ele pretendia fazer um intercambio de um ano na Inglaterra.
Desde então, havia dedicado os meus últimos dias com transferência de colégio, conversas com a minha mãe e meu pai e finalmente organizar as minhas coisas para partir.
Eu sei, sei que estou agindo como uma menininha indefesa dos típicos livros ou filmes clichês: Estar apaixonada pelo melhor amigo, blé. Mas isso só foi uma alavanca para o que eu planejava há muito tempo: novas experiências, vida nova, pessoas novas e finalmente, a faculdade dos sonhos. Eu teria que ir para lá de qualquer forma, só que mais tarde.
“falar com você sempre me deixa mais leve, como se todas as respostas e soluções Mundo estivessem em você”.
Repreendi mais uma vez a voz dele na minha cabeça, e ao mesmo tempo, pedia para que ela continuasse, era a única coisa que eu teria dele quando partisse. Eu sabia que ele me odiaria. Iria partir sem me despedir de ninguém, eu odiava despedidas.
Mas claro, eu havia dito a minha mãe que havia me despedido de todos os meus amigos e colegas e até improvisei dizendo que eles fizeram uma festinha de despedida durante o intervalo. Respirei fundo e levantei da cama.
Um porta retrato dourado, em cima do criado mudo, tinha uma foto de Ian e eu abraçados e sorrindo para a câmera. Segurei o porta-retrato, abri-o e tirai a foto de lá, logo em seguida colocando dentro da minha bolsa. Aquela era a única de somente nós dois.
- Pronta?
Tomei um susto ao ver minha mãe dentro do quarto.
- Pronta
Fechei a porta do quarto ao sair, deixando uma parte de mim lá.
Desci as escadas sem pressa, prestando a atenção em pequenos detalhes e confiando a memória de que não seriam esquecidos. Eu sabia que não era um adeus. Ainda passaria muitos e muitos dias naquela casa, na companhia da minha mãe e quem sabe, se me perdoarem meus amigos.
Ao sair pela porta da frente, um vento gelado nos atingiu como um golpe. Corri para dentro do carro e fechei a porta. Minha mãe sentou no banco do motorista, sorriu para mim e deu a partida no carro.
Fiquei observando as casas passarem velozmente por nós e meu coração acelerou ao passar na frente da casa de Ian. Branca, de dois pisos com um jardim grande e bem cuidado e uma enorme arvore onde costumávamos passar o verão aproveitando a sua sombra enquanto o sorvete derretia em nossas mãos.
Respirei fundo e desviei o olhar.
Ele sempre seria meu melhor amigo e as melhores lembranças da minha vida o têm. Não quero estragar o namoro dele com declarações desesperadas. Se for para ficarmos separados que seja porque me afastei, fui embora sem dizer nada, porque não sou uma boa amiga... E não por estragar tudo com sentimentos que não são bem vindos.


Seis horas depois, cozinhando dentro das roupas de frio,  desembarquei na pequena cidade em que meu pai morava. Nos autofalantes do aeroporto, uma voz feminina e sensual informava que já eram oito da noite e a temperatura estava em torno dos 30°C.
Estava um tumulto, muita gente desembarcando, embarcando, a entrada estava lotada de pessoas aguardando e parecia que todo mundo teve a ideia de bater com a mala em mim.
Meus Deus, será que eu comprei a passagem errada e desembarquei no inferno?
- Elize!!!
Virei a tempo de ver Caroline correndo em minha direção e depois só senti meus ossos sendo triturados com o abraço.
- Oi Caroline- minha voz saiu abafada com o aperto sufocante.
Caroline me afastou e olhou dos pés a cabeça. Ter uma madrasta que parece a encarnação da boneca Barbie era desconcertante.
- Você está linda!!! E como cresceu, parece que foi ontem que você apareceu correndo e conversando com o seu amigo imaginário!
Corei com a lembrança e forcei um sorriso. Também a observei: cabelo loiros caindo em delicadas ondas até os ombros, um vestido Vintage, maquiagem leve e um corpinho com tudo no lugar. E o fato de ter apenas 8 anos a mais do que eu era ainda um choque.
Me senti o Shrek, literalmente.
- Também é bom ver você Caroline – retribui, me afastando.
- É Carol, você sabe – ela enlaçou Marcelo pela cintura, sorrindo como uma fada – Ela não está linda amor?
Marcelo me olhou, concordando com a cabeça. Encarar os olhos dele era o mesmo que olhar para o espelho. Mesmo com 40 anos, ele era lindo: alto, musculoso, sorriso branco e bonito, olhos grandes e expressivos, rosto anguloso e cabelos densos e negros. Era perfeitamente compreensível a paixão fulminante da minha mãe por ele.
- Está mesmo...já é um bela mulher.
Não nos abraçamos, apenas trocamos um sorriso cortes. Não suportava demonstrações forçadas de afeto. Ele também não.
- Então, vamos querida? –Carol disse, passando um braço amigável pelos meus ombros.
- Vamos – murmurei com um suspiro, entrando no Camaro preto e reluzente (um dos quatro carros do meu pai) e indo em direção a minha nova vida.













Que tal?
Com isso encerra-se um ciclo da vida de Liz e acreditem, vai mudar tudo radicalmente!
bjs

2 comentários:

  1. Qué isso dona Benelli? ta cochilando nos erros de português? ;p
    Fora alguns 2 ou 3 errinhos, ta muito bom o texto, gostei da continuação da história =)

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  2. Que tal...?
    Bom, uma mudança repentina... Agora sim vai ter pano pra manga!
    Não sei porque, mas ainda fico impressionado com a sutileza dos detalhes de cada cena, a qualidade da escrita, até parece que estou lendo pela primeira vez um texto seu.
    Parabéns.
    Estou muito curioso! quero saber logo oque você anda planejando pra vida desta menina tão peculiar e que por algum motivo... não me é estranha! :]

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