Capítulo 13
Sete anos depois
- Tem certeza que não
estou parecendo um bolo de aniversário???
Marina olhava-se no
espelho em todos os ângulos, a pequena mão acariciando inconscientemente a
delicada barriga de 8 meses. Usava um vestidinho branco e solto, os cabelos
ruivos desciam pelos ombros em delicadas ondas e os pés um pouco inchados
estavam em chinelinhos dourados.
Eu já estava pronto há
muito tempo, então me dediquei a tarefa de ficar sentado na cama observando a
minha esposa se arrumar para irmos no jantar de Natal na casa da Vanessa.
Ri com a preocupação
no rostinho branco e corado e não resistindo, a puxei para se sentar no meu
colo. Ela também riu e apoiou a cabeça em meu peito. Beijei suavemente sua
testa e espalmei a mão em sua barriga, mais uma vez uma onda de amor tão forte
me atingindo ao saber que havia um pedacinho de nós dois crescendo ali.
- Você é o bolo mais
lindo que eu já vi – brinquei, recebendo em seguida um tapinha na cabeça.
- Se essa criança
nascer com cara de bolo a culpa é toda sua!!! – disse, beijando meus lábios.
Retribui, no inicio com calma, leveza até que ela entreabriu os lábios eu então
e aprofundei o beijo. Nunca enjoaria do beijo dela, não importava quanto tempo
passasse. Senti ela se desvencilhando dos meus lábios e em seguida a vi em pé,
ajeitando os cabelos com os dedos.
- Passei quase uma
hora tentando domar esses cabelos, portanto não ouse se aproximar e estragar
tudo – brincou, sorrindo.
Levantei-me e passei minha mão nos cabelos volumosos, desarrumando-os. A abracei e afundei meu rosto
na curva do pescoço perfumado, ouvindo seus protestos.
- Prefiro eles
rebeldes – murmurei, distribuindo beijo – isso me lembra que quando eles estão
assim, geralmente estamos naquela cama e ...
- Tarado –
interrompeu, rindo e se afastando – Acho melhor irmos de uma vez antes que eu
decida querer o meu presente de Natal agora – falou maliciosa.
- Quando quiser – respondi
me agachando e beijando a barriga dela.
Abri os olhos e encarei fixamente o teto.
Mais uma vez aquelas lembranças vinham me atormentar em
sonhos.
Passei minhas mãos no rosto, secando os vestígios de
lágrimas e suor. Minha mão caiu inerte do lado direito do colchão e apertaram
convulsivamente os lençóis. Ela deveria estar ali, dormindo entre meus braços e
sorrindo ao acordar, pensei. A dor da perda mais uma vez me sufocou e
exasperado levantei da cama, constatando que eram ainda seis da manhã.
Passei pela cômoda, sabendo mesmo sem ver, que ali tinha uma
foto de casamento, minha e de Marina. Ela estava radiante na foto, registrando
um dos momentos mais importantes da minha vida.
Andei a passos largos em direção ao banheiro e tomei uma chuveirada
fria. Quantas vezes nos últimos três anos eu havia feito a mesma coisa? Acordar
assustado, tomar um banho frio e seguir em diante, ignorando a dor e vazio que
queimavam meu peito?
Depois de longos minutos, sai e me vesti para mais um dia de
trabalho no hospital. Meu sonho era ser o residente e devido aos
acontecimentos, havia me entregado de corpo e alma ao trabalho, chegando ao
topo em pouco tempo.
Marina havia partido há exatamente três anos em uma
madrugada chuvosa.
A gravidez havia complicado nas suas ultimas semanas. Marina
não conseguia comer, não levantava da cama e vivia a base de analgésicos.
Quando ela entrou em trabalho de parto eu não estava em casa: havia saído para
comprar flores a ela e uma roupinha pequena e bonita que havia visto na vitrine
de uma boutique para a nossa filha. Quando cheguei em casa, Rose, a nossa
empregada me esperava. Nunca conseguiria esquecer a expressão desolada no rosto
idoso e abatido. No chão havia marcas de sangue e pelos olhos dela não precisei
perguntar para saber o que havia acontecido. Dirigi como um louco até o
hospital e ao chegar lá quase cai com um abraço forte de Daniele. Ela chorava e
dizia coisas incompreensíveis.
Eu não entendia nada.
O corredor estava cheirando a álcool e o silencio era
absoluto, tirando os soluços abafados de Daniele em meu pescoço. Soltei-a, sem
me importar com o contato quebrado abruptamente. Andei com passos vagarosos
ouvindo o sangue latejar em meus ouvidos. A sensação de que tudo estava em câmera
lenta e isso me deixou tonto, ofegante. Não ouvi mais nada a não ser o som da
minha respiração acelerada e o sangue rugindo. Quando cheguei ao final do
corredor virei a esquerda e foi então que eu vi: Minha mãe chorava ruidosamente
nos braços do meu pai, que ao me ver, fez menção de se levantar, porém como
minha mãe o segurava, limitou-se a murmurar um “sinto muito”.
Olhei para a porta da sala de cirurgias e andei sem me
importar com os protestos de um enfermeiro. Empurrei as portas com força, o vento
delas chicoteando o meu rosto.
- Senhor, você não pode entrar ai!
A voz vinha ao longe quando parei, olhando fixamente para a
mesa de cirurgia.
Uma enfermeira tinha um bebê nos braços e o embalava,
limpando-o cuidadosamente. Outra, tirou
as luvas e a máscara com uma expressão de derrota. Ela passou por mim, sem me
olhar. Havia três médicos ao redor da mesa e quando eles se afastaram de lá, já
retirando aparelhos, agulhas e acessórios, meus joelhos foram ao chão. O foco cirúrgico
incidia diretamente sobre um corpo pequeno, onde se podia ver que havia feito
uma cesariana. O sangue estava sobre todo o local e então, a última coisa que
vi antes de mergulhar na escuridão, foi uma aliança na mão que pendia fora do
leito.
- Papai?
Uma vozinha sonolenta me chamou. Virei em direção a voz e
sorri para a menina de cabelos ruivos, olhos verdes e segurando na mãozinha gordinha
uma manta que tinha desde bebê. A manta que a mãe dela havia comprado ainda nas
primeiras semanas de gravidez.
- Oi gatinha- falei, me agachando e recebendo o meu presente
nos braços.
ps: como falei, tudo vai mudar radicalmente!
Ao contrario dos outros capítulos, esse tem uma pegada bem sombria...mas prometo que a historia não vai virar só d-pres HSAUHSUAHSAU
bjs
Até a próxima
Até a próxima?? ta, então quando é a próxima? Eu quero entender, vamo! escreva mais!! :) Cara, agora sim você conseguiu me deixar muuuito instigado!
ResponderExcluirEntão, to esperando...
tadinho :( kkk *-*
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