sexta-feira, 20 de abril de 2012

Capítulo 4

  
   Na manhã seguinte, acordei mais cedo do que os galos.
   O relógio despertou às seis da matina, mas só acordei mesmo depois das seis e meia, afinal, sempre tem aqueles "só mais cinco minutinhos".
   Depois de tirar meu pijama de algodão furado, tomar um banho bem demorado para tirar a sensação de ressaca e me secar, fiquei alguns minutos tentando achar a roupa perfeita.
   Até os meus 15 anos, eu era a tipica menina triste rejeitada pela sociedade (se bem que nem tão triste assim). Meu cabelo era muito cacheado, então todas as manhãs eu me sentia a rainha da selva. Usei óculos fundo de garrafa até finalmente ter coragem de usar lentes de contato, e para piorar a situação tinha aparelho nos dentes. E eu nunca havia dado bola para a aparência até esta idade. Mas nos últimos meses, quando os meus 17 anos chegaram, vi que eu tinha que fazer alguma coisa a respeito se não quisesse ficar igual a minha tia Marisa: gorda, com seis gatos e encalhada.
    Optei por meu velho jeans, uma camisa de seda e sapatilhas. Passei uma generosa quantidade de mousse no cabelo até ele ficar tão duro que nenhum fio seria capaz de se mover e fiz uma maquiagem bem leve, só para tirar a aparência de múmia.
- Ainda não está pronta?
   Virei-me em direção a voz e encontrei Ian recostado do batente da porta. O sorriso largo com covinhas estava lá, como de costume. Ian dormia cerca de cinco horas por dia, pois além de estudar durante o dia, trabalhava no shopping a noite, e só tinha tempo para os estudos de madrugada. Contudo ainda assim tinha a aparência de descançado, revigorado.
- Jaqueta nova ? - brinquei apontando para ele.
- Liquidação - brincou e entrou no quarto, sentando na cama. - Desde quando você fica cerca de meia hora se arrumando?
- Desde que decidi ser bonita - brinquei, tentando disfarçar a resignação de não ser uma ruiva fatal.
- Você não precisa dessas coisas - disse pegando um pincel de pó compacto da colcha - Você é linda como é - murmurou simplismente.
- Isso foi um ELOGIO Ian? - brinquei, levantando uma sobrancelha.
- Só uma declaração de realidade sua cabeçuda - riu - se demorar mais um segundo te deixo a pé.
   Olhei para o espelho.
- Estou pronta - dei uma voltinha e parei na frente dele com uma pose de modelo - como estou?
   Ian levantou a cabeça das folhas que estava lendo e me encarou. E ficou assim durante um momento. 
   O riso sarcástico desapareceu.
- Acho melhor irmos- falou, se espreguiçando ao levantar.
- E quanto a minha beleza devastadora? - brinquei fazendo um biquinho.
Ian riu e se aproximou perigosamente.
- Vou te mostrar a sua beleza quando você chegar na escola descabelada.
   Ian avançou em minha direção. Num misto de medo e diversão me esquivei no momento em que ele iria agarrar meu braço.
- Sejamos razoáveis - falei, enquanto corria das mãos ágeis - minha beleza o deixa desnorteado.
- A sua produção não foi pra mim.
   Não tive tempo de analisar a resposta agressiva, pois Ian me jogou em seu ombro e correu escada a baixo, fazendo com que meus gritos acordassem toda a casa.



- As sete você acha que estará pronta?
   Olhei para os olhinhos azuis de Diego, abobada.
- Claro, está marcado então - falei depressa. Nem que eu tivesse que virar o furação Catrina, mas eu ia ficar pronta até lá.
Novamente aula de história, e os grupos da peça estavam reunidos em seus bolinhos.
- Comprei a versão integral da peça, com todas as marcações de palco e descrição do ambiente. Acho que vai facilitar se não soubermos como fazer - ele comentou, acenando para Gabriela.
- Genial - sorri. Ele podia dizer que o Mundo tem a forma de trapézio e eu concordaria.
   Diego e eu, desde o dia anterior, havíamos conversado bastante. Depois da aula, conversamos pelo MSN, depois pelo Facebook, Twitter e por ai vai, até eu receber a costumeira ligação de boa noite de Ian.
- Você já estava dormindo? - ele havia perguntado assim que atendi o telefone.
- Não, não. Estou...sem sono - na verdade acesa, pensei, contendo o impulso de ver se havia mais mensagem do Diego.
- Hmmm, então tá - a voz estava áspera de cansaço, senti uma enorme vontade de abraçar Ian. - Só liguei pra desejar boa noite e avisar que amanhã vou passar na sua casa mais cedo pra comer o seu cereal, tá?
- Mas qual cena vocês decidiram fazer? - Daniele perguntou, erguendo o óculo e rabiscando na agenda - Afinal, sou a diretora dessa porra.
   Voltei ao presente no susto.
- Que tal a cena final da peça? A morte deles? - sugeriu Diego, olhando para mim.
"Eu deitada angelicalmente, ele fazendo juras de amor eterno e um beijo"
- Eu aceito, acho legal essa cena - concordei. "Obrigada Deus por ele não ser um vampirinho que brilha e lê mentes".
- Mas vocês sabem que vai rolar um beijo, né? - Daniele perguntou, desenhando uma boca na agenda´.
"E os anjos dizem amém novamente"
- Mas pode ser um beijo de mentirinha, esse que é na bochecha ou no canto da boca e a platéia acha que é de verdade - continuou, nos olhando.
    Filha da boa mãe, porque ela tem sempre idéias que facilitam tudo??? Às vezes uma dificuldadezinha é legal, ainda mais quando se fala em beijar aqueles lábios...
- Eu não tenho problema algum com um beijo na verdade- olhei para Diego rapidamente, meus olhos se arregalando - Você tem problemas com isso Liz? Prometo que não a morderei - brincou e Daniele e ele riram.
- Nenhum problema - "pode até ser com mordida", completei mentalmente.
- Certo, então só temos que ensaiar. Mas hoje a noite não vai dar, tenho curso de inglês - bufou Daniele.
- Liz e eu podemos ensaiar hoje, passar as falas e cenas - sugeriu Diego - então amanhã nos reunimos os três, mas desta vez com a sua direção. As falas já estarão na ponta da língua.
- Por mim tudo bem - ela murmurou, sorrindo e lançando uma piscadinha para mim.
- Tudo bem - murmurei, com um suspiro dramático- Já que não tem outra solução. Que tal almoçarmos agora?
   Andamos juntos até o refeitório e nos servimos de algo que diziam ser gelatina. O lugar já estava lotado de estudantes, que no momento que nos viram ficaram em silêncio momentaneamente, para depois voltarem ao normal.
- Você está dando o que falar Liz - sussurrou Daniele no meu ouvido - Você virou o foco dos assuntos da escola.
- Eu? - sussurrei também, mesmo sendo impossível alguem escutar com toda aquela barulheira.
- É, tem mais alguém que esteja com o cara mais bonitão do pedaço? Você não percebe que ele não para de olhar pra você?
   Senti minhas bochechas corarem ao sentar na mesa, junto com Ian e toda a turma.
- Até Ian não ficou muito satisfeito com os boatos - ela sussurrou.
   Olhei para o fim da mesa, onde Ian estava sentado com...Marina? Nossos olhares se encontraram, e pela primeira vez mandei um oi sem jeito.
- Amiga - olhei para Daniele - Não sei se notou, mas obviamente Diego não quer apenas ensaiar hoje a noite. É um encontro também.
   Olhei para o assunto de nossos sussurros e ele estava me olhando. Sorriu.
- Acho que não disse o quanto você está linda Lizzy.
Lizzy? Todos me chamam de Liz, porém vindo dele, podia até me chamar de Valquíria.
- Não disse, mas eu agradeço - falei, curvando a minha cabeça num cumprimento antigo -  Mas de onde veio Lizzy?
- Um dos meus clássicos favoritos é Orgulho e Preconceito. O nome da personagem principal é Elizabeth, mas todos a chamam de Lizzy. Acho vocês duas muito parecidas.
- Porque? - curiosa, apoiei meus cotovelos na mesa e me aproximei.
- Ambas são linda, inteligentes, engraçadas e raras.
   Caramba, alguém me segure que vou ter um infarto agora mesmo.
  "Ele me quer", pensei, rindo por dentro da expressão.
   Pelo canto do olho, vi Ian sair da mesa com uma expressão assassina.




Capitulo 5 em breve.

Por favor, deixem comentários. Só assim saberei se vcs estão gostando, se tem sugestões e poderei corrigir meus erros.
abraços.


agbenelli








Um comentário:

  1. "Acho que vai facilitar se não soubermos como fazer - ele comentou, acenando para Gabriela."
    Não sei se eu não entendi direito, ou oque, mas acho que essa frase ficou um pouco confusa.
    No geral está muito bom, da pra perceber um clima de "rivalidade/antipatia" entre Ian e Diego. Interessante =)

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