Capítulo 3
O novo professor de história, Luan, tinha a aparência de um diretor de cinema desempregado: uma careca brilhosa, sapatos marrons, suspensórios (por incrível que pareça) e uma maleta de couro. Todos fingiamos não ver a garrafinha de bebida no bolso do paletó ou sentir o forte odor de cigarro e cafeina. Mas ele parecia legal. Sua fala era arrastada e seus olhos gentis. Após dizer alguma coisa, olhava dramaticamente ao longe, como se estivesse tentando resolver teorias da existência humana.
Como todos os primeiros dias de aula, a turma de quarenta alunos estava em silêncio mortal, todos prestando atenção nas palavras muitas vezes sem sentido do professor. Todos tentando começar o primeiro dia de aula com determinação, como se fossem estudiosos.
Os professores que se cuidem daqui há três dias. Vão conhecer o verdadeiro diabedo.
- O trabalho consiste na representação de uma cena. Cada grupo pode escolher o livro que quiser, desde que seja de Shakespeare. A importância desta atividade não é o romance em si, mas sim demonstrar como era o comportamento da sociedade na época.
Minha mente já começou a formular imagens da encenação.
- E lembrando que a apresentação vale dez e terá a maior importância neste bimestre - o professor disse, depois deu uma longa suspirada - cabe a vocês montarem os grupos.
A voz dele sumiu com o alvorosso que se formou com a palavra grupos. Eram gritos, chamados e xingamentos para todos os lados.
- Vamos fazer juntas? - Daniele perguntou, empurrando o óculos para cima do narizinho.
- Claro - respondi, animada por ter uma nerd no grupo. Nota dez garantida, para nossa alegria.
- Diego já tem grupo será? -ela pediu, apontando para o outro lado da sala, onde ele estava rodeado de garotas afoitas. Não as culpo. Nossos olhares se encontraram e vi o pedido de socorro no sorriso forçado.
Ri e fui em direção a ele
- Com licença meninas -falei alegremente, dando uma empurradinha para passar no bolinho - sinto muito, mas Diego já está no meu grupo, não é?
- Claro - respondeu com um suspiro de alivio, levantando e nos dando uma excelente visão dos músculos definidos pela camisa branca - Com licença garotas.
Diego passou por elas e me segurou pelo braço, nos levando até a minha mesa. Senti como se uma descarga elétrica tivesse passado pelo meu braço.
Atrás de mim, tive a impressão de ouvir vários guizos de cobra e rosnados.
- E então minha amada Julieta, como vamos fazer?- brincou Diego, encorando-se na minha cadeira.
Isso promete ser um excelente espetáculo.
- Quer dizer então que você será a Julieta no seu grupo...-murmurou Ian, entre uma e outra dentada na pizza.
Para seguir nossa tradição, estavamos no restaurante de Maria, onde servem a melhor pizza da cidade. Morar a duas quadras de distância tem suas vantagens.
- Pois é...cara, não aguento mais nenhum pedaço - suspirei, minha voz desanimada. - Mas eu quero tanto uma fatia de pizza de morango..
- Como essa aqui? - Ian mordeu lentamente o pedaço, soltando murmurios de prazer. - Perfeita.A calda derrete na boca, os morangos estão..
- Cala a boca - brinquei jogando meu guardanapo nele - fique com seus quilos a mais, pretendo emagrecer para o papel.
- Quilos a mais? - inquiriu levantando uma sombrancelha densa
Olhei pra ele mais nitidamente
Como nunca reparei o quanto ela havia crescido? Ele devia ser mais alto que o Diego, os braços eram musculosos o peito torneado. Olhei para o lado.
Meu cérebro não deve estar muito bem hoje.
Desde quando reparo nestas coisas?
E desde quando eu fico olhando para Ian desse jeito?
- Quem será o Romeu? -perguntou me olhando com certo interesse - Você está corada?!!
- Hein? - cadê o buraco para se esconder? - Não estou corada, impressão sua. O Diego será o Romeu- falei com um dar de ombros, mas por dentro dando saltos mortais de vivas.
- Já serão o casal principal de cara? O conheceu hoje e ele já entrou no seu grupo?
- Ele não tinha um grupo, lembra, ele é novo na escola, não conhece ninguem além de mim.
- E de mim também- retrucou, a expressão séria
- O que? Você já o conhece?
- Os pais dele são amigos da minha familia. Coincidentemente, aquela semana em que fui pra praia, os pais dele nos convidaram para ficarmos todos juntos. Mal nos falavamos, mas sei muito bem que tipo de cara ele é.
- Isso é bom ou ruim? - perguntei, ansiosa.
Ian apenas riu, o colocou mais um grande pedaço de pizza na boca.
- Não vai responder? - falei irritada, dando um chute na canela dele.
Ele se engasgou e começou a rir ao mesmo tempo. Não aguentei ao ver um alface no dente branco. Rimos como loucos no restaurante, chamando a atenção de todos.
- Shhhh - balbuciei - agora me fale.
Ian se reclinou na cadeira, me olhando com seriedade. Quando o maxilar fica tenso é péssimo sinal
- Porque tanto interesse? Desde que chegamos aqui você não para de falar em Diego isso, Diego aquilo.
- Hmmm, como vamos trabalhar juntos em um importante projeto, pensei que..bem,..seria melhor se eu conhecesse melhor o meu parceiro - ganhei o Oscar com essa.
- Ainda bem, pensei que a Liz que conheço tinha sido abduzida e seu cérebro foi trocado por merda, igual ao das meninas que se deixam impressionar por um sorriso confiante ou musculos amostra.
Fiquei de boca aberta, segurando a minha vontade de socá-lo. Afinal, não tinha nada de anormal em querer conhecer um cara sarado, bonito e com um olhar angelical...
Droga.
- Sou a mesma Liz de sempre - retruquei, com um sorriso amarelo.
- Vamos ao cinema amanha?
Amanhã! Como pude esquecer?
No final da aula de história, Diego e eu saimos lado a lado, conversando sobre a peça. Senti os olhares avaliadores, de escárnio e inveja nos perseguir pelo corredor.
- Então...vai fazer alguma coisa amanhã a noite?
Parei a nossa caminhada, tentando não dizer nada que pudesse estragar o momento. "lembre-se do manual da revista Toda Teen, sobre como conquistar o gato sem dar bandeira", falei mentalmente.
- Por enquanto não tenho nada programado- comuniquei, com um suspiro digno de premiação.
- Que tal se, sei lá, começarmos a estudar o texto, e quem sabe depois sair e comer alguma coisa, quem sabe...-ele massageou a nuca, olhando para o chão. Uma mecha de cabelo caiu sobre seu olho, deixando minhas mãos ansiosas para colocar no lugar. Que diabos está acontecendo comigo? Só conheço o cara há duas horas e aqui estou eu querendo mexer no cabelo brilhoso.
- Acho uma ótima ideia - sorri lentamente, me segurando pra não sair pelo corredor derrubando o material das alunas e gritar "ELE VAI SAIR COMIGOOOO!!!!LALALALLALA.
- Então amanhã marcamos, pode ser?
- Pode - respondi rapidamente.
- Então nos vemos amanhã - ele se inclinou e o beijo parou na minha testa.
- VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO ELIZABETH?
Quase saltei da cadeira e olhei assustada para Ian, que já pedido a conta
- Desculpe, você disse alguma coisa?
Ian me olhou de uma maneira que nunca havia feito. Com desprezo.
- Veja sempre por onde anda.- ele disse e pagou a pizza.
caraca posta logo o resto dessa historia, to me sentindo o LEITOR IDEAL, apesar de conhecer você pouco ainda.
ResponderExcluirValeu Gui
ExcluirJá postei até o 4, vai ter que esperar mais uns 15 capitulos pra chegar ao fim dessa jossa kkkkkkk. Mas obrigada. Sou fã do seu blog, e espero que um dia vc tmb seja do meu bjbjbj