segunda-feira, 2 de julho de 2012

Vingança Indômita

Capítulo 1


– Não é possível... - balbuciou o velho Baltazar, recostando-se em seu trono. Olhou para o emissário ajoelhado a sua frente, rezando para que as noticiem fossem apenas um engano

- Esse tipo de coisa nunca aconteceu na história! - trovejou levantando-se e apontando um dedo acusador - Se estiver mentindo para mim...

– Não, não meu senhor! - murmurou o outro, levantando a cabeça e encontrando a ira nos olhos do "rei" - São duas meninas. Tenho certeza disso. A própria Adrastea  me informou.

Baltazar fez um sinal para que o emissário se retirasse.
Duas filhas! Impossível.
Ele estava velho, batalhas sempre surgiam e todos sabiam que precisavam de um novo líder. Agora, além do fato de nascer mulher, eram duas.

– Meu rei - dois arcanjos falaram em uníssono, entrando na enorme construção de pedra em que Baltazar ficava. Lá as decisões, estratégias e planos eram realizados. Uma mesa longa, de cerca de 10 metros ficava a esquerda do enorme salão formado de vidro, ouro e pedras preciosas. O trono ficava no centro de tudo, a uma altura em que todos, aonde quer que estejam, possam ver o rei.

– Vamos ao Oráculo de Delfos - Baltazar falou com pressa, suas enormes asas dominando o salão - Chame Graco, quero que ele esteja presente.

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Cinco homens estavam ao redor de um gigantesco Oráculo. Homens humanos passaram centenas de anos tentando achar aquele lugar sagrado, mas seus esforços foram em vão. Os anjos não permitiriam que tal coisa acontecesse. Os segredos mais profundos do universo estavam ali. Para eles, nenhum ser humano era digno de tal conhecimento, nem eles próprios. Somente os maiores líderes, como Baltazar, tinham livre acesso aquele lugar. Não porque eram proibidos de se aproximar do local, mas sim porque eles nada viam, nada sentiam, era apenas pedras e água.
Deve-se possuir um forte poder espiritual para conseguir tirar informações daquele lugar nascido do pó.

– O que você vê? - perguntou Graco, o guerreiro mais forte e jovem da legião.
Graco tinha a beleza dos seres celestiais, com seus olhos cinzentos e cabelos castanho-dourados, porém dentro de si pouco brilho havia. Ele era um bom guerreiro justamente pelo seu espírito de justiça e vingança, que não combinavam em nada com o rosto perfeito, mas corpo escultural.

– Silêncio - Sibilou Baltazar, inclinado sobre a fonte, vendo o movimento das águas, que de acordo com a sua concentração, ficava cada vez mais turbulenta, aos poucos formando imagens - Oraculum, ostendere mecum qui erit electus – sussurrou, na antiga língua dos hebreus.

Ostendere mecum!*

Os três anjos a sua volta nada viram, porém sentiram uma força poderosa passar por eles. Olharam para Baltazar.
Imagens e cenas se formaram com a água.
Duas meninas de beleza angelical sorriam de mãos dadas. Suas pequenas asas eram fortes e diferentes dos demais anjos, assim como os lideres as têm. As crianças se se desmancharam apareceram duas jovens guerreiras, lutando com espadas e outras armas, seus sorrisos eram largos, mas seus músculos denotavam a força que exerciam em meio a aplausos e gritos da plateia.

SANGUE, SANGUE, SANGUE, SANGUE...

Uma caiu no chão, sua arma era apontada para si mesma. A outra sorri com malevolência, recebendo palmas, rosas e uivos dos espectadores da luta. Seus olhos se encontraram e uma onda de ódio as envolveu, uma sede de poder, vitória.
Baltazar sentiu que suas últimas imagens estavam vindo. Suas mãos tremeram e se apoiaram no oráculo.
Umas legiões de anjos lutavam tanto na terra como no céu, irmãos lutando contra irmãos. Fúria, ódio, anjos caindo... e eram dois exércitos que comandavam, cada qual com uma de suas filhas no comando.

SANGUE, SANGUE, SANGUE, SANGUE...

– O que foi? - Ariston, o arcanjo do meio perguntou preocupado com a expressão de horror do rei.

Dura tempora adventum* – Baltazar disse vendo as imagens desaparecerem.





*Oraculum, ostendere mecum qui erit electus: no sentido de pedir que o oráculo lhe mostre quem é o eleito.
*Dura tempora adventum: tempos difíceis estão chegando

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