Primeiro dia de aula...
Que merda.
Tateei de olhos fechados o criado
mudo ao lado da cama e ao sentir a textura da capa dura de um livro o peguei e
bati continuamente no despertador até ouvir um cleck de alguma coisa quebrada.
A paz reinou no quarto novamente e
me permiti mais cinco minutinhos abençoados de sono... e acabei acordando meia
hora atrasada!
Joguei as cobertas longe e sai
estabanada da cama, a juba do meu cabelo piorando a minha visão repleta de
ramelas de sono. Entrei no closet e peguei uma calça jeans, camiseta com
estampa do Thundercats e um chinelo Havaianas
amarelo e me vesti com pressa. Passei no banheiro, joguei uma água no rosto,
prendi meus cabelos num rabo de cavalo alto e dei um sorrisinho amarelo para meu
reflexo, zuando a mim mesma.
Desci as escadas correndo, pegando
no caminho minha mochila e dando de cara com o rosto angelical de Laura que
parecia ter saído recentemente de uma revista de moda.
- Bom dia querida, dormiu bem? –
falou me estendendo uma xicara de café fumegante.
- Como uma pedra – respondi engolindo
o liquido que desceu como fogo pela minha garganta. Senti um rubor de calor
subir pelo meu rosto. – Cadê a fruteira?
- Joguei fora aquela coisa velha,
guardei as frutas na gaveta da geladeira – Disse e eu abri com força a geladeira
e tirei de lá uma maça verdinha e fresca. - Não vai tomar café da manhã?
Apontei a maça para ela indicando a
minha refeição e marchei em direção à porta
- Paaaiiiiiii – gritei para as
escadas recebendo um “já vou!”
- Não vai se arrumar para a escola
filha?
Olhei pra ela com cara de “Como é
que é?”.
- Já estou pronta – murmurei azeda
dando mais uma mordida na maça que devia sangrar a essa altura.
- Poderia pelo menos calçar um
sapatinho bonitinho ou quem sabe passar um batom nos lábios...
- Vamos filha – meu pai falou me
puxando pelo pulso em direção à porta – Tchau amor.
- Tchau!
- Obrigada – murmurei entrando no
carro – Mais dois minutos e eu sairia de casa como uma boneca Barbie.
Meu pai riu enquanto dava partida
no carro. Durante o trajeto conversamos sobre o trabalho dele e ele me contou
sobre os problemas que a empresa estava dando, principalmente com funcionários.
Quando percebi o carro já estava parado em frente a minha nova escola.
- Bem, é aqui. Qualquer coisa você
já sabe, basta me ligar... Quais são as regras?
Ri diante do olhar do meu pai,
levar suas regras a sério era uma missão difícil.
- Não chegar em casa tarde, não
aceitar nenhum doce ou qualquer coisa que remeta a drogas, não tirar notas baixas
e jamais aparecer gravida em casa se não for do meu marido – recitei.
- Boa garota, nos vemos mais tarde.
Desci do carro e esperei ele
desaparecer das minhas vistas.
Encarei o colégio novo, as pessoas
novas e senti meu estomago dando voltas.
- Não seja covarde – murmurei para
mim mesma e caminhei com passos apressados até a minha sala de aula.
Com certa facilidade achei a sala
indicada. Quando entrei assustei-me por encontra-la tão cheia. Minhas malditas
bochechas coraram ao serem alvo de todos aqueles alunos, uns me encarando com
curiosidade outros com zombaria.
Identifiquei rapidamente os
grupinhos da sala: tinha os nerds na primeiras carteiras, os engraçadinhos e
pegadores na fila da parede, as vacas leiteiras no meio da sala e o
dorminhocos, reprovados e anti-sociais
no fundo da sala.
Sentei na penúltima fila de cabeça
baixa, entre os reprovados e as gralhas peitudas, esperando que os burburinhos
que se formaram desaparecessem. O professor de história entrou na sala com um
sorriso iluminado no rosto. Aos poucos as conversas se findaram e todos
prestaram a atenção no professor baixinho e simpático que dizia palavras de
boas vindas e apresentações.
- Sei que a maioria se conhece há
muito tempo, mas sei também que temos alunos novos esse ano. Levantem a mão e
digam o seu nome a turma.
Ergui a mão timidamente e me
assustei ao ver cerca de 30 pares de olhos sobre mim. Pelo visto eu era a única
novata.
- Oi querida, Qual é o seu nome?
Respirei fundo rezando para não
gaguejar.
- Elizabeth
- Seja bem-vinda Elizabeth, espero
que todas a recebam muito bem – disse olhando para todos.
- Ela é bem-vinda na minha casa! –
Virei em direção a voz em meio ao mar de risos. Um ruivo de nariz grande piscou
para mim me mandando um beijinho.
- Não liga para ele – uma voz sussurrou.
Olhei para trás – Guilherme gosta de
implicar com todos, é o piadista da nossa turma.
- Percebi – murmurei.
- A propósito meu nome é Caroline.
Sorri para a loira de olhos azuis e
virei-me para frente.
Aquele prometia ser uma dia longo.