II - TARDE DE MUDANÇA
A casa não era bem o que eu esperava...
Ok, na verdade não era nada do que eu esperava.
Nas minhas idealizações de lar, era
mais provável o nosso novo imóvel ser uma oca do que a luxuosa casa que eu
encarava de olhos franzidos.
Laura dava gritinhos de alegria e
dava ordens aos responsáveis pela mudança enquanto o meu pai descarregava
algumas caixas do carro e entregava aos homens suados.
- Vai querida, pode entrar e ir
conhecendo a casa – encorajou-me Laura com um sorriso.
Dei de ombros e andei em direção à
porta de entrada, quase caindo ao esbarrar em um pilha de caixas e embalagens
acumuladas no hall de entrada. Olhei para todos os lados, abobada com a
decoração impecável e provavelmente muito cara.
Andei com cuidado em meio a bagunça
e curiosa comecei a examinar cômodo por cômodo do primeiro andar, e quando a
curiosidade ficou incontrolável, subi as escadas de dois em dois degraus em
direção aos quartos.
O corredor era extenso e levava a
cinco portas. Segundo Laura um era deles, outro meu e os demais para possíveis visitas
ou até empregados que trabalhassem para nós. Andei até o último e parei em
frente, meio que pressentindo que aquele era o meu.
Girei a maçaneta e meus olhos se
esbugalharam diante do meu novo quarto.
ROSA, ROSA, COR-DE-ROSA, BRANCO,
ROSA.
Por favor, eu tenho que acordar
desse pesadelo... Prefiro que o Freddy Krueger venha me buscar...
- Gostou filha?
“Jesus é mais” , pensei ao levar um
susto com a presença repentina de Laura.
- Gostou? – repetiu, sorrindo.
Um pecado a mais... Um a menos, não
faz tanta diferença né?
- Adorei - respondi forçando um sorriso para ela e
depois se intensificando, mas com escárnio, em direção ao veado colorido no
meio do quarto.
- Que bom, a arquiteta fez mesmo um
lindo trabalho. Adorei o alce. – disse olhando ao redor – Vou descer e ajudar o
seu pai com o resto das nossas coisas...já olhou o banheiro? Ficou divino!
Mais fortes emoções não senhor,
roguei suspirando.
- Já vou ver.
Esperei ela sair das minhas vistas
para desfazer o sorriso. Depois passei cautelosamente pelo alce em direção ao
banheiro que já estava com a porta aberta. Um sorriso genuíno se formou ao ver
a simplicidade e conforto do local.
Depois de dar mais uma volta pela
casa e conhecer os cômodos, peguei de dentro de uma das caixas uma calça de
moletom surrada, chinelos de dedo e uma camiseta com a estampa do frajola na
frente e me troquei. Coloquei meus óculos de grau (porque por mais que eu
tentasse passar o dia todo sem ele ficava difícil depois de um tempo ver alguma
coisa direito) e amarrei meus cabelos em um rabo-de-cavalo frouxo.
Passei pelo meu pai dando um
sorriso e comecei pegando as caixas menores e levando ao meu quarto. Liguei o
aparelho de som em uma musica animada e me dediquei as tarefas de levar caixas,
desembrulhar pertences, limpar e guardar.
Música tema: http://www.youtube.com/watch?v=GwQsswNqJO0.
Primeiro organizei meus tênis,
sandálias, pantufas, botas e uma grande coleção de chinelos no pequeno closet.
Depois comecei a organizar meus livros nas estantes e prateleiras para em
seguida enfileirar minhas antigas bonecas e ursos de pelúcia.
Com cuidado coloquei minha caixa de
materiais em cima da escrivaninha e ajeitei o porta-canetas abarrotado. Passei
um pano no notebook, tablet, coloquei uma escultura de inox em forma de
bailarina em cima do criado mudo, desembalei o despertador, o abajur com
liquido dentro, os quadros que eu havia pintado, os estojos de maquiagem, a
caixa de cremes e esmaltes, os enfeites coloridos, o porta-joias, a caixinha de
musica... Era tanta coisa que eu nem sabia que possuía.
Nessa altura do campeonato já
passava das cinco da tarde, meu quarto estava parcialmente arrumado, minha
barriga clamava por comida e o cansaço quase me levando a se jogar na grande e ridícula
cama do quarto.
Ouvi a campainha tocar lá embaixo,
provavelmente mais entregas.
Seguei o suor e desci as escadas
para pegar mais uma caixa, dessa vez com roupas quando estaco no meio do
caminho.
Laura está de costas para mim e a
sua frente, chamando a atenção do meu olhar estava... Bem, acho que o cara mais
gato que já vi na vida. Nada surreal tipo Edward Cullen, até porque a cidade é
grande e ensolarada, mas com toda a certeza do tipo que merece uma segunda,
terceira até quarta olhada.
Desci o resto das escadas, meu
coração batendo em um ritmo acelerado (deve ser obviamente das caixas que levei
escada acima né) e sentindo minhas bochechas mudarem drasticamente de cor.
Abaixei a cabeça e rumei em direção
à caixa maior. Preparei-me para levanta-la e um resmungo saiu pelos meus lábios
com o peso dela.
- Quer ajuda?
Estaquei ao ouvir a voz rouca e
grave.
Laura se virou e quando percebi eu
estava na ridícula posição, com a roupa marcada de suor, os cabelos grudando no
rosto e com dois pares de olhos me encarando: um em compreensão o outro com
divertimento.
Ergui-me e tentei me arrumar o mais
dignamente possível, fazendo a cara de quem não está nem ai.
- Ian, essa é minha filha, aquela
que te falei no jantar na sua mãe – ela me sorriu encorajando a me aproximar.
Permaneci – Helena esse é o filho da Caroline Maitland, a minha sócia lembra?
- Ah, claro – pigarrei – hey.
HEY? EU DISSE HEY PARA AQUELE DEUS
GREGO FAZENDO VISITA A MORTAIS DA TERRA?
Do que adiantou passar tanto tempo
lendo reportagem do tipo “Conquiste já!” ou “Arrase em todas” da revista
Capricho e TodaTeen???
Porque meu Deus, porque eu nasci
tão retardada? Cadê o buraco para se enfiar quando se precisa?
Vi ele se aproximar lentamente, os
olhos verdes brilhando de divertimento e um sorriso suave nos lábios carnudos. Quase
dei um pulo ao sentir um leve roçar de lábios no meu rosto.
- É um prazer conhece-la Helena, há
muito tempo venho escutando sobre você.
- Espero que minha mãe não tenha
dito a verdade – murmurei e me chutei mentalmente ao perceber que havia dito
tudo em voz alta.
Ele deu uma risadinha, voltando-se
para Laura.
- Bem, eu tenho que ir. Tenho uma
reunião na revista daqui a pouco. Se tiver alguma duvida basta ligar para mim
ou para a minha mãe – ele já ia em direção a saída quando parou – Vocês vão no
jantar lá em casa sexta né?
- Claro que sim, pode confirmar com
a sua mãe. – Laura respondeu e eu só fiquei observando tudo.
- Nos vemos sexta então – falou,
mas antes se virou e me encarou – Te espero lá Helena.
Notas da autora: ai caramba, vai ser O OME AUHSUAHSUAHS. Obrigado aos comentários, as pessoas que estão lendo e acompanhando as minhas histórias, isso me motiva muito!!!
Não deixem de cometar, só assim saberei se vocês estão gostando ou não e adoro receber criticas e sugestões.
Abraços, até a próxima :)