quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

II - TARDE DE MUDANÇA 




A casa não era bem o que eu esperava... Ok, na verdade não era nada do que eu esperava.
Nas minhas idealizações de lar, era mais provável o nosso novo imóvel ser uma oca do que a luxuosa casa que eu encarava de olhos franzidos.
Laura dava gritinhos de alegria e dava ordens aos responsáveis pela mudança enquanto o meu pai descarregava algumas caixas do carro e entregava aos homens suados.
- Vai querida, pode entrar e ir conhecendo a casa – encorajou-me Laura com um sorriso.
Dei de ombros e andei em direção à porta de entrada, quase caindo ao esbarrar em um pilha de caixas e embalagens acumuladas no hall de entrada. Olhei para todos os lados, abobada com a decoração impecável e provavelmente muito cara.



Andei com cuidado em meio a bagunça e curiosa comecei a examinar cômodo por cômodo do primeiro andar, e quando a curiosidade ficou incontrolável, subi as escadas de dois em dois degraus em direção aos quartos.
O corredor era extenso e levava a cinco portas. Segundo Laura um era deles, outro meu e os demais para possíveis visitas ou até empregados que trabalhassem para nós. Andei até o último e parei em frente, meio que pressentindo que aquele era o meu.
Girei a maçaneta e meus olhos se esbugalharam diante do meu novo quarto.


ROSA, ROSA, COR-DE-ROSA, BRANCO, ROSA.
Por favor, eu tenho que acordar desse pesadelo... Prefiro que o Freddy Krueger venha me buscar...
- Gostou filha?
“Jesus é mais” , pensei ao levar um susto com a presença repentina de Laura.
- Gostou? – repetiu, sorrindo.
Um pecado a mais... Um a menos, não faz tanta diferença né?
- Adorei  - respondi forçando um sorriso para ela e depois se intensificando, mas com escárnio, em direção ao veado colorido no meio do quarto.
- Que bom, a arquiteta fez mesmo um lindo trabalho. Adorei o alce. – disse olhando ao redor – Vou descer e ajudar o seu pai com o resto das nossas coisas...já olhou o banheiro? Ficou divino!
Mais fortes emoções não senhor, roguei suspirando.
- Já vou ver.
Esperei ela sair das minhas vistas para desfazer o sorriso. Depois passei cautelosamente pelo alce em direção ao banheiro que já estava com a porta aberta. Um sorriso genuíno se formou ao ver a simplicidade e conforto do local.
Depois de dar mais uma volta pela casa e conhecer os cômodos, peguei de dentro de uma das caixas uma calça de moletom surrada, chinelos de dedo e uma camiseta com a estampa do frajola na frente e me troquei. Coloquei meus óculos de grau (porque por mais que eu tentasse passar o dia todo sem ele ficava difícil depois de um tempo ver alguma coisa direito) e amarrei meus cabelos em um rabo-de-cavalo frouxo.
Passei pelo meu pai dando um sorriso e comecei pegando as caixas menores e levando ao meu quarto. Liguei o aparelho de som em uma musica animada e me dediquei as tarefas de levar caixas, desembrulhar pertences, limpar e guardar.


Primeiro organizei meus tênis, sandálias, pantufas, botas e uma grande coleção de chinelos no pequeno closet. Depois comecei a organizar meus livros nas estantes e prateleiras para em seguida enfileirar minhas antigas bonecas e ursos de pelúcia.
Com cuidado coloquei minha caixa de materiais em cima da escrivaninha e ajeitei o porta-canetas abarrotado. Passei um pano no notebook, tablet, coloquei uma escultura de inox em forma de bailarina em cima do criado mudo, desembalei o despertador, o abajur com liquido dentro, os quadros que eu havia pintado, os estojos de maquiagem, a caixa de cremes e esmaltes, os enfeites coloridos, o porta-joias, a caixinha de musica... Era tanta coisa que eu nem sabia que possuía.
Nessa altura do campeonato já passava das cinco da tarde, meu quarto estava parcialmente arrumado, minha barriga clamava por comida e o cansaço quase me levando a se jogar na grande e ridícula cama do quarto.
Ouvi a campainha tocar lá embaixo, provavelmente mais entregas.
Seguei o suor e desci as escadas para pegar mais uma caixa, dessa vez com roupas quando estaco no meio do caminho.
Laura está de costas para mim e a sua frente, chamando a atenção do meu olhar estava... Bem, acho que o cara mais gato que já vi na vida. Nada surreal tipo Edward Cullen, até porque a cidade é grande e ensolarada, mas com toda a certeza do tipo que merece uma segunda, terceira até quarta olhada.
Desci o resto das escadas, meu coração batendo em um ritmo acelerado (deve ser obviamente das caixas que levei escada acima né) e sentindo minhas bochechas mudarem drasticamente de cor.
Abaixei a cabeça e rumei em direção à caixa maior. Preparei-me para levanta-la e um resmungo saiu pelos meus lábios com o peso dela.
- Quer ajuda?
Estaquei ao ouvir a voz rouca e grave.
Laura se virou e quando percebi eu estava na ridícula posição, com a roupa marcada de suor, os cabelos grudando no rosto e com dois pares de olhos me encarando: um em compreensão o outro com divertimento.
Ergui-me e tentei me arrumar o mais dignamente possível, fazendo a cara de quem não está nem ai.
- Ian, essa é minha filha, aquela que te falei no jantar na sua mãe – ela me sorriu encorajando a me aproximar. Permaneci – Helena esse é o filho da Caroline Maitland, a minha sócia lembra?
- Ah, claro – pigarrei – hey.
HEY? EU DISSE HEY PARA AQUELE DEUS GREGO FAZENDO VISITA A MORTAIS DA TERRA?
Do que adiantou passar tanto tempo lendo reportagem do tipo “Conquiste já!” ou “Arrase em todas” da revista Capricho e TodaTeen???
Porque meu Deus, porque eu nasci tão retardada? Cadê o buraco para se enfiar quando se precisa?
Vi ele se aproximar lentamente, os olhos verdes brilhando de divertimento e um sorriso suave nos lábios carnudos. Quase dei um pulo ao sentir um leve roçar de lábios no meu rosto.
- É um prazer conhece-la Helena, há muito tempo venho escutando sobre você.
- Espero que minha mãe não tenha dito a verdade – murmurei e me chutei mentalmente ao perceber que havia dito tudo em voz alta.
Ele deu uma risadinha, voltando-se para Laura.
- Bem, eu tenho que ir. Tenho uma reunião na revista daqui a pouco. Se tiver alguma duvida basta ligar para mim ou para a minha mãe – ele já ia em direção a saída quando parou – Vocês vão no jantar lá em casa sexta né?
- Claro que sim, pode confirmar com a sua mãe. – Laura respondeu e eu só fiquei observando tudo.
- Nos vemos sexta então – falou, mas antes se virou e me encarou – Te espero lá Helena.





Notas da autora: ai caramba, vai ser O OME AUHSUAHSUAHS. Obrigado aos comentários, as pessoas que estão lendo e acompanhando as minhas histórias, isso me motiva muito!!!
Não deixem de cometar, só assim saberei se vocês estão gostando ou não e adoro receber criticas e sugestões.

Abraços, até a próxima :)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


PRÓLOGO



    Verona é um lugar legal.
   Tudo bem, mesmo sendo o meu sonho, não me refiro a terra de Romeu e Julieta e sim a um bairro bacana de gente granfina para o qual meus insistiram em se mudar. Eu poderia fazer um escândalo ou ter chorado até estar com o nariz entupido de meleca para continuarmos no antigo apartamento isolado de qualquer meio de comunicação humana ou na escola que frequentei desde os meus tenros 6 anos de idade...mas eu estava terrivelmente cansada de ser alvo de chacotas e ser chamada de a rainha da aberração da natureza.
   Pensei nas manhas isoladas na escola e nos insultos e agressões que sofria pelos meus adorados colegas de turma ou a escola toda quem sabe apenas por ter um estilo...digamos...eclético e preferir a companhia de um livro ou cálculos de física nas mãos ao contrario de toda a população feminina. E também pelas tardes aprendendo receitas no canal gourmet e as noites de sábado assistindo a novela das oito.
   Por isso em pouco tempo não pensei duas vezes e embalei o resto dos meus pertences na caixa de papelão e levei ao carro.
   Foi estranho olhar pela ultima vez o lugar que passei toda a minha vida. Olhei atentamente para a varanda no apartamento, a cor de areia das paredes e o pequeno parquinho ao lado. Respirei profundamente o cheiro do outono e embarquei no carro junto com meus pais e fiquei observando pelo vidro o meu passado até tudo desaparecer.






I- A NOVA VIDA


Música tema do capítulo: http://www.youtube.com/watch?v=b_mwlrkBPT



  O carro parecia uma sauna e minhas roupas grudavam desconfortavelmente na pele. O sol lá fora estava de rachar e com um sorriso irônico imaginei que o Diabo devia estar rindo da minha cara por estar toda de couro e preto em plenos 32°C.
- Você vai adorar o lugar querida – disse Laura, um protótipo de boa mãe do banco da frente – A praia fica a menos de uma quadra da nossa casa e da para ver o mar da sua sacada...
Por um momento (e muito breve) senti pena dela.
   Nas ultimas semanas ela vinha se empenhando em ser uma boa mãe, tentando se aproximar e fazer todo o tipo de mimo, uma vez que ao ser promovida, eu a via apenas duas vezes por semana.
   Não que eu sentisse falta disso, pelo contrário.
  Quem havia me criado foi meu pai, meu melhor amigo. Meu nascimento havia sido um acaso do destino sendo que minha mãe só descobriu a gravidez aos quatro meses de gestação. Dona de várias butiques de maquiagens e roupas finas pela cidade, ela era o espelho do sucesso profissional, e para mim o fracasso maternal e familiar. Ela vivia para desfiles, tendências, compras e luxo. Na sua agenda não havia tempo para o marido e muito menos para mim. Talvez para suprir essa ausência, essa sensação de vazio que eu e meu pai nos tornamos tão dependentes um do outro.
   Olhei para o retrovisor e vi Laura. As diferenças entre nós eram gritantes
  Capa de revista poderia defini-la: alta, pele bronzeada, corpo curvilíneo e com tudo no lugar, olhos azuis piscina como os meus, cílios longo de dar inveja e cabelo loiro, longo e liso de propaganda. Ela estava à beira dos quarenta, mas dificilmente alguém lhe daria mais de trinta.
   Já eu...bem...sou de estatura média, reta que uma tabua, cabelos castanhos indecisos entre o liso e cacheado, pele queimada de sol e próxima candidata a mutante no X-Men, prazer.
-...E então eu mandei  a arquiteta colocar uma poltrona de veludo rosa pra combinar com a cortina e o abajur, e a cama com dossel ficará linda com a escrivaninha de carvalho.
Ela me olhou com um sorriso de expectativa.
- O que você acha filha?
Droga, do que ela estava falando mesmo?
 Piloto automático ativado.
- Concordo com tudo – respondi forçando um sorriso com a resposta habitual para “não sei do que você está falando”.
- Quer fazer uma parada para comer um lanche filha? – meu pai perguntou ao parar na sinaleira.
- “To” sem fome pai.
   Meu pai, Eduardo, é dono de uma transportadora dos mais variados produtos. A barriga de Chopp começou a dar os seus primeiros sinais pela falta de exercícios e eu aconselharia tinta para cabelos grisalhos. Porem, tirando isso ele deve ter arrancado alguns corações na juventude (essa era a única explicação que conheço para estar casado com Laura).
    Ele é o meu melhor amigo.
  Assistíamos futebol comendo salgadinhos, pipoca e bebendo cerveja (eu sei, habito de homem), caminhávamos nos fins de tarde, jogávamos videogame, íamos ao cinema e até dormíamos na rede. Ele me ajudava a fazer o jantar ou limpar a casa e sempre nos divertíamos com isso.
   Como pai ele aconselhava, dava sermões, carona pra casa, dinheiro para o lanche e até passava a minha roupa embora eu já o tivesse proibido de realizar essa tarefa. Ele era o porto seguro, a companhia de todas as horas.
   Ele foi o amigo que não tive durante toda a minha vida e preencheu as lacunas que a falta de uma mãe causa.
   Estava tão absorta em pensamento que não notei que o carro havia parado.
- Bem...eis nosso novo lar – falou meu pai.
   Olhei para a casa luxuosa, lugar onde eu começaria a minha nova vida.





Notas da Autora: então, está ai mais uma história que surgiu há alguns meses como anotações em um caderno e agora em forma de livro no blog. A outra história que publiquei é a minha xodó mas infelizmente só postarei novamente daqui há algumas semana, a inspiração vem me faltado e quando você se apega a personagens a preocupação de escrever um excelente capítulo é constante.

Peço que por favor comentem!

Só assim saberei se estão gostando ou não e adoro receber dicas e sugestões.

abraços,

Agbenelli