Capítulo 6

- Ei vocês!
Diego levantou a cabeça com um movimento brusco e olhou para algo atrás de mim. Ele não me soltou de imediato, mas senti toda aquela magia se quebrar.
Olho também para a mesma direção que ele e soltei alguns impropérios baixinhos ao ver Daniele, Ian e mais alguns amigos vindo em nossa direção.
- Espero que não tenhamos atrapalhado nada - anunciou Eduardo dando uma risadinha e passando um braço nos ombros de Daniele.
"Eles estão juntos???", pensei, descrente.
- É claro que não - respondi rapidamente, já que Diego estava em um silêncio mortal.- O que vocês estão fazendo aqui?
- Liguei no seu celular dezenas de vezes e sua irmã disse que você estaria por aqui - disse Marina, ao lado de Ian. Ele não olhava para mim.
Ah, como eu amo a minha irmazinha querida.
- Vocês vão aonde agora? Querem sair com a gente? - Daniele perguntou, os olhos me atirando perguntas.
- Tenho que ir para casa na verdade - anunciou Diego, para meu espanto e decepção - tenho algumas coisas a resolver esta noite.Você pode ficar com eles se quiser Liz e aproveitar, a não ser que queira que eu a leve para casa.
- Eu a levo.
Não tive tempo de abrir a boca, pois Ian respondeu por mim. Fiquei sem reação.
- Tudo bem - ele disse e sorriu para mim - espero que possamos sair novamente um dia desses - mais baixinho ele sussurou ao me beijar no rosto - e de preferencia sem interrupções desta vez.
Corei e torci para que ninguem visse. Diego saiu com um "thau" alegre em direção ao carro.
Ian aceitou ir lá em casa e assistir algum filme na TV. Era terror pesado, do tipo que você fica verificando a toda hora o corredor para ver se não tem nenhuma alma penada à espreita. Estavamos confortavelmente instalados no sofá, a tela plana à nossa frente, um balde de pipoca doce entre nós.
Ele não me perguntou como foi minha noite com Diego.
Na verdade falamos sobre tudo menos sobre aquilo. Portanto não me senti no direito de perguntar sobre Marina e ele.
- Todo mundo disse que o filme REC não dá medo - sussurei.
Ian riu e esticou as pernas.
- É um filme bom, mas um tanto infantil. Viu o sangue que espirrou a seis metros de distância da cabeça da loira? É ridiculo!
- Diego disse algo parecido com isso - murmurei ao relembrar a nossa conversa sobre filmes favoritos no restaurante.
- Aff
Olhei para ele. Tinhamos desligados as luzes para criar um maior suspense e a luz vinda da tela fazia com que ficasse azulado o cabelo negro, o rosto em formas e contornos duros. Reparei que formavam covinhas quando ele sorria. Nunca percebi. As sombrancelhas eram retas e densas, o queixo forte e quadrado, olhos gentis mas com poder de amedrontar qualquer um sem dizer uma palavra.
Os ombros eram largos e comprometiam o meu espaço no sofá. Nossos ombros estavam colados, mas de uma forma muito confortável. Mais uma vez constatei que Ian emanava força e proteção...e ele olhava para mim.
Dei uma risadinha para disfarçar.
QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO???
Primeiro saio com o cara mais lindo do meu Mundo, quase tive meu primeiro beijo apaixonado e agora eu estava observando Ian não com os olhos de uma melhor amiga, e sim com certo interesse.
- Você está muito vermelha Liz - ele sussurou passando um dedo frio na minha bochecha.
- Impressão sua - voltei meu olhar para a tv. Perdi dois assassinatos.
- Como foi que ele morreram??
- Eles estavam abraçados, dizendo o que sentiam um pelo outro depois de anos, e o Jason cerrou os dois ao meio.
Naquele momento eu não sabia se ficava horrorizada ou ria. Escolhi a segunda opção.
- É o que acontece quando se quer declarar depois de tanto tempo - brinquei.
- Eles não queriam perder o que construiram por anos. A amizade é complexa e necessita de dedicação.
Olhei para ele, intrigada.
- Continue - incitei, deixando de lado o filme.
- Eles não percebiam ou não queriam perceber o que sentiam um pelo outro. São sentimentos novos e confusos. Por um lado você vê que pode ama-lo, por outro, pode ocorrer uma grande rejeição e acaba amizade.
- E você acha que eles fizeram o certo? Deixando de lado a amizade?
Ian me olhou longamente.
- Muitas vezes vale a pena. É muito melhor do que viver uma mentira ou se questinar de como as coisas poderiam ter sido.
Nos encaramos.
O filme havia acabado sem sabermos do final, o silêncio tomando conta da sala. A unica coisa que eu ouvia era a nossa respiração pesada, o relógio na parede e... meu coração a mil.
Ian inclinou-se na minha direção, e por algum motivo, provavelmente confiança nele, não me afastei.
- Liz...- sussurou, os lábios a uma minima distância
MOVA-SE, GRITE, EMPURRE, FAÇA ALGUMA COISA!
Porém meu corpo não se moveu um milimetro
- Acho que está na hora de as crianças estarem na cama - Gabriele falou na soleira da porta, com uma mascara de pepino verde na cara.
Ian me afastou e se colocou em pé
- Eu te levo até a porta - falei sem jeito, tentando compreender o que havia acontecido.
Quando chegamos lá nos olhamos e para aliviar fui a primeira a falar.
- Para você ver, fizemos uma análise sentimental em cima de um filme de terror.
- Pois é - ele disse olhando a rua - acho melhor eu ir. Thau Liz.
Acenei para ele enquanto fechava a porta, com uma vontade inesplicável de chorar.